Notícias | 20 de setembro de 2005 | Fonte: Gazeta Mercantil

Uma complexa tarefa para os fundos: gerenciar riscos

Gestores têm padrão global quanto a riscos de mercado; em outras áreas, há espaço para avanços. Os fundos de investimento precisam avançar na área de gestão de riscos de crédito e operacionais. A opinião é de Antonio Marcos Duarte Júnior, PhD em matemática aplicada pela Universidade de Princeton e professor do Ibmec Business School, do Rio de Janeiro. No entanto, segundo o especialista e também autor do livro recém-lançado `Gestão de Riscos para Fundos de Investimentos`, em outro tipo de risco – o de mercado (análise das tendências de preços importantes, como juros e câmbio) – os gestores locais equiparam-se aos principais administradores internacionais.

Na área de gerenciamento de riscos de crédito, segundo destaca Duarte Júnior em seu livro, `a maioria dos administradores de recursos de terceiros ainda se limita a olhar os ativos de crédito tentando classificá-los como ?bons? ou ?maus?`. Só que, na visão do especialista, há procedimentos mais estruturados, como a classificação do risco de crédito por meio de ratings, para selecionar os títulos e calcular com mais eficiência perdas esperadas, capital econômico e também o preço compatível com o retorno.

Para o sócio-diretor da consultoria RiskOffice, Fernando Lovisotto, os gestores ligados a bancos que ofertam crédito têm mais condições de controlar esse risco. No caso dos independentes, segundo ele, a maioria não aplica em ativos de crédito, salvo em Certificados de Depósitos Bancários (CDBs). Segundo Lovisotto, os fundos têm apenas 20% do patrimônio investido em ativos de crédito.

O controle do risco de crédito é mais antigo do que a gestão de riscos operacionais. Mesmo em bancos, o gerenciamento do risco operacional só ganhou espaço recentemente no âmbito das discussões do Novo Acordo de Basiléia (ver abaixo). Diferentemente dos riscos de mercado e de crédito, que fazem parte do retorno do investimento, o risco operacional, (fraudes, erros humanos, de sistemas e processos) deve ser eliminado.

`Há um processo de aprendizagem em curso em bancos e seguradoras para o tratamento de forma estruturada dos riscos operacionais`, afirma Duarte Júnior. Já nas gestoras de fundos, `essas práticas não existem de forma estruturada`. Para o especialista, há duas maneiras de tratar o risco ope-racional. Qualitativamente, com a identificação e avaliação dos riscos e instituição de processos de controles, e quantitativamente. Nesse caso, com indicadores de performance e também a adoção de instrumentos para medir riscos como o Valor em Risco (VaR).

Para o coordenador do escritório de controles internos da RiskOffice, Francisco Fernandes, `há espaço para avanços na área de gestão do risco operacional`. Segundo ele, o foco das gestoras deve estar nos controles internos. `Com o novo acordo de Basiléia, isso acontecerá em dois a três anos.`

A SulAmérica Investimentos já conta com modelos de gestão de risco de mercado e crédito há pelo menos oito anos, informa Miguel Russo, superintendente de risco e operações. `Estamos em processo de implementação de um modelo para gestão de risco operacional, que deve ser concluído no final do ano`, afirma. Para a gestão do risco de crédito, há um comitê que faz as análises das emissões, aprova ou não o investimento e determina limites de exposição, em função da qualidade da empresa, ou do setor em que atua.

Segundo o executivo, com a `joint venture` com o grupo holandês ING, a SulAmérica teve acesso à metodologia do grupo e definiu um modelo de abordagem qualitativa (conversas com analistas, visitas a empresas) e quantitativa dos riscos (análise de balanços).

A gestão de riscos operacionais e de crédito na Votorantim Asset Management (VAM) é antiga, informa o diretor Paulo Geraldo Oliveira Filho. `É um processo cultural no grupo Votorantim`, diz. Segundo ele, a VAM foi beneficiada com a expertise do banco. Na área de gestão de riscos operacionais, a VAM vem fazendo esforços para ter controles internos bem elaborados, desde a resolução do Banco Central de 1998 sobre o tema, conta o gerente administrativo Antônio Cabrera. `Temos várias ferramentas para coibir perdas por falhas humanas, fraudes, erro de documentação`, informa. `A estruturação do processo exigiu investimentos significativos em TI, que nos permitiu avançar principalmente na qualidade da informação`.

Para o gerenciamento do risco de crédito, a VAM também conta com um comitê que impõe limites por empresa, por setor, por emissão e por portfólio. Para Fernandes, a gestão de risco, num primeiro momento, será um instrumento de competição; no futuro, de sobrevivência. `É uma tendência e isso já tem acontecido com as fundações, que estão cada vez mais exigentes ao selecionar os gestores.`

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