Notícias | 28 de junho de 2018 | Fonte: DCI via Revista Cobertura

“A sinistralidade está menor, mas isso não significa que os resultados serão melhores”

O CEO da Mapfre no Brasil, Wilson Toneto, vê chance de maior alta na carteira auto com novo acordo com BB Seguridade, mas pondera reajuste de preços ante ‘efeito rebote’ de 2017
 A recompra da carteira de automóvel pela Mapfre na nova reestruturação com a BB Seguridade dará maior autonomia à seguradora espanhola e poderá trazer altas mais significativas na modalidade.
Por outro lado, mesmo em um cenário de sinistralidade mais controlada, os juros baixos e a lenta retomada ainda trazem o “rebote” no reajuste dos preços do seguro.
Em entrevista exclusiva ao DCI, o CEO da Mapfre no Brasil, Wilson Toneto, fala sobre o novo modelo de parceria com a holding do Banco do Brasil e traz as principais expectativas sobre o desempenho da seguradora e da indústria.
A atuação independente em auto pode trazer um crescimento maior no produto?
Eu acho que sim. Teoricamente, isso dá uma autonomia maior de investimento e evolução e possibilita tratar as margens de forma diferente e até ser mais ousado na carteira. Mas é preciso separar os fatores societários dos de negócio. Isso ajuda, mas o que garante o crescimento é a economia retomando, os novos financiamentos saindo.
Então, a melhora nas vendas de veículos 0 km já é positiva para a seguradora?
Houve uma boa reação da indústria nos últimos meses – e crescemos bastante em linha com o mercado –, mas com tudo o que aconteceu em maio [a greve dos caminhoneiros], isso pode arrefecer um pouco. Além disso, ainda temos dúvidas se esse crescimento continuará sustentável em função das incertezas que temos hoje no País. Esperamos que a retomada continue porque é um movimento muito importante para retroalimentar o mercado de seguros, mas em um ritmo diferente do que vimos até agora.
A Mapfre pensa em atuar no seguro auto popular?
O auto popular é um desafio para todo o mercado, mas já temos o produto em atividade dentro da nossa casa e mantemos conversas regulares [com o setor] para não cometermos nenhum risco estratégico. O produto não é fácil até pela questão da judicialização onde, embora haja uma regulamentação, há um grande risco. Todas as companhias estão se preparando e acho que no segundo semestre isso já deve começar a engatilhar.
E quanto ao risco de novas manifestações? Pode haver alta na sinistralidade?
Podem acontecer, mas não em volumes que afetem a nossa indústria. Como na greve dos caminhoneiros, até há um ou outro caso de indenização, mas outras modalidades com sinistralidades menores, como colisão ou roubo de veículos, acabam compensando. Nesse caso, vemos outros problemas mais sérios e que afetam de forma mais significativa, como a violência urbana que segue muito elevada. Dizem que o seguro no Brasil é caro, mas as condições nas quais oferecemos os produtos são muito adversas.
Mas a sinistralidade que temos hoje já é menor do que a que vimos nos últimos anos.
A sinistralidade está menor, mas isso não significa resultados melhores. Ela é importante, mas não é a única que compõe a rentabilidade de uma seguradora. Quando o resultado financeiro cai em um cenário de juros menores, eu sou obrigado a fazer com que meus outros componentes sejam mais eficientes. Além disso, parte da queda também se deve porque muitas seguradoras deixaram de contratar determinados riscos para certos locais até mesmo como uma tentativa de reestruturação da carteira.
Com a taxa de juros mais estável ainda devemos ver algum reajuste de preços?
A questão é que ainda temos um efeito rebote do ano passado. Em seguro saúde, por exemplo, o reajuste pela inflação média de 2017 foi quase 18%. Isso cria uma subida de preços necessária ao setor. Embora a inflação controlada ajude e a taxa de juros em patamares razoáveis seja boa para a economia, o mercado de seguros ainda tem um período de adaptação ao novo cenário.
Quanto tempo ainda deve durar esse efeito rebote?
Não deve se estender por muito tempo. No seguro saúde, o ajuste deste ano já está pré-anunciado. Mas vale lembrar que existem vários vieses. Ainda que a inflação controlada também reduza um pouco os preços dos insumos necessários para repor bens, isso também significa um menor ajuste salarial. Em uma apólice de vida vinculada a um múltiplo salarial, por exemplo, isso ainda significa uma menor receita.
Como tem sido este ano para a Mapfre até agora? Quais produtos se destacaram?
O mercado todo tem andado em um ritmo bastante parecido. Nós, especificamente, temos ido muito bem nas carteiras de vida, automóvel e seguros massificados. Nas apólices de grandes plantas [grandes riscos industriais], nós permanecemos estáveis porque é um segmento bastante contido e tivemos um pequeno decréscimo em seguros agrícolas. No geral, nós crescemos muito no ano passado e, até agora, permanecemos estáveis.
Por que houve queda nas apólices de agronegócio?
Tivemos um efeito sazonal de menos vendas de coberturas agrícolas principalmente porque os próprios agricultores postergaram suas decisões de financiamento ante a queda das taxas de juros. E como nossos negócios estão muito atrelados a isso, tivemos uma redução em torno de 4% no primeiro trimestre deste ano contra igual período de 2017. Mas nós vamos voltar a crescer este ano com certeza. O agronegócio é a sustentação desse País.
Já podemos esperar um crescimento de dois dígitos no mercado neste ano?
Para este ano ainda não. Algumas companhias podem crescer dois dígitos, mas a indústria ainda demora um pouco mais. A última projeção otimista que nós temos é de uma alta de, no máximo, 9%, mas a perspectiva realista está em torno de 5% a 6%. A correlação que nós temos com o PIB [Produto Interno Bruto] é de um delay, tanto para cima quanto para baixo. Já começamos a reagir, mas não o suficiente para retornarmos a esses patamares.
A melhora, então, fica apenas para o ano que vem?
Depende. As possibilidades de novos produtos e tecnologias abrem espaço para crescimento de dois dígitos de algumas coberturas. Mas ainda depende muito dos produtos que têm um peso mais significativo no mercado, como previdência e saúde, por exemplo. Se eles não atuarem de forma mais forte, fica difícil. Ainda assim, as expectativas são positivas. Temos que acreditar.

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