Notícias | 23 de agosto de 2018 | Fonte: G1

Seis suspeitos de aplicar golpe do seguro e matar homem com deficiência em Porto Alegre são indiciados

Polícia Civil concluiu inquérito com os crimes de estelionato e homicídio qualificado. Investigação teve reviravolta quase um ano depois do crime, e envolve seguro de R$ 800 mil.

Seis suspeitos de participação na morte de um homem com deficiência em Porto Alegre, em fevereiro de 2017, foram indiciados por estelionato e homicídio qualificado. Eles aguardam o andamento do processo em liberdade por decisão da Justiça. Conforme a Polícia Civil, uma posição do Ministério Público é aguardada. O delegado responsável pela investigação afirma que “a prova é robusta”, e que todos deveriam estar presos.


A vítima é André Fonseca Zanirati, mais conhecido por Alf, que tinha 49 anos e morava no bairro Cavalhada, Zona Sul da capital gaúcha. Segundo a família, ele tinha deficiências na fala e de aprendizagem e era conhecido por todos na região. Costumava ficar na Praça dos Bancários, no bairro Cavalhada.
Em fevereiro de 2017, Alf sumiu. No dia 25, foi encontrado morto em uma estrada no bairro Lami.


A investigação policial seguiu até o fim do ano sem chegar a um autor. Até que a polícia foi surpreendida pelo contato de uma seguradora.


“Havíamos reunido um número robusto de provas, mas que não traziam uma autoria para a gente (…) Em janeiro de 2018, surgiu uma situação que nos chamou atenção. Nós fomos procurados pela seguradora para saber em que pé andava a investigação da morte do André, porque haviam contratado um seguro de vida em nome dele. E esse seguro de vida havia sido contratado três meses antes da morte”, relata o delegado Eibert Moreira Neto, da Delegacia de Homicídios e Desaparecidos.


“Foi feito um seguro de R$ 800 mil em nome dele. Por uma pessoa que ninguém nunca ouviu falar na vida. Nunca viu na vida”, diz um familiar, sem se identificar.
De acordo com o delegado, a beneficiária do seguro era Malora Schunck Lorenzo, uma técnica em enfermagem de Tramandaí, no Litoral Norte, que afirmou para a polícia que mantinha um relacionamento com André.


Porém, ao ser interrogada na delegacia, ela não o reconheceu em fotos mostradas. “Quando nós, durante o depoimento, apresentamos algumas informações para ela, tal como a foto da vítima, ela referiu não conhecer aquela pessoa”, acrescenta Eibert.
Familiares de André demoraram a acreditar no que havia acontecido. “Ele não conseguiu se alfabetizar, a não ser conseguir escrever o próprio nome, com bastante dificuldade. Conhecia um pouco do dinheiro, mas era uma pessoa que não tinha maldade Era uma criança, num corpo de adulto”, define um parente.


No inquérito, a polícia concluiu que um homem identificado como Kanitar do Espírito Santo Neto era o coordenador do esquema. “Foi ele quem fez o seguro em nome do André. Primeiro conseguiu documentos, depois se passou pela vítima e até pagava mensalmente o seguro. Para não ser descoberto, Kanitar usava um e-mail criptografado na deepweb, uma rede oculta e não rastreável da internet”, explica o delegado.


“O Kanitar, então, gerou um e-mail da deepweb para que toda a documentação gerada do seguro, tal como apólice e boletos para pagamento, fossem encaminhados para a vítima, mas na realidade quem manuseava esses e-mail era ele”, completa.


Além de Kanitar, o esquema envolvia outras cinco pessoas, conforme a investigação: o corretor de seguros Sérgio Augusto Corrêa de Freitas, que foi quem fez o seguro, o advogado Miguel Machado, que orientava a suposta companheira, beneficiária do seguro, o motorista Gabriel Mayer Carpim da Silva, amigo de Kanitar e quem indicou a colega de trabalho Malora Schunck Lorenzo para se passar por companheira de André, e Rogério Tatsch Gehres, outro amigo de Kanitar e quem teria indicado a vítima. Ele era vizinho de André, teria conseguido os dados dele e, segundo a polícia, teria feito os disparos.


“Essa informação nós continuamos buscando, mas, pelo contexto, pelo que conseguimos apurar, o Rogério é o principal suspeito”, diz o delegado.
De acordo com Eibert, “o caso de André pode ser apenas um dos homicídio praticados por essa organização criminosa”. Esse é mais um fator para a Polícia Civil defender a prisão dos seis indiciados.


“Já surgiu informação nessa investigação, que outros seguros foram cotados por essas mesmas pessoas que estão sendo indiciadas por este estelionato e por essa organização criminosa”, destaca.
Todos foram presos no andamento da investigação, mas foram soltos por ordem judicial.


“O tribunal resolveu que não era o caso de mantê-los presos, tendo em vista que eles não gerariam nenhum empecilho à investigação policial. Porém, a prova é robusta no sentido de que todos eles responde pelo estelionato contra a seguradora, responde por fazerem parte de uma organização criminosa e respondem pelo homicídio qualificado de André Fonseca Zaniratti”, conclui Eibert.


“Justiça, justiça. Que todos sejam presos”, pede a família da vítima.
O inquérito está com o Ministério Público, sendo analisado pelo promotor Luiz Eduardo Azevedo que, em função da gravidade da situação, diz que pretende entregar a denúncia para a Justiça até sexta-feira (24).


Contrapontos


O advogado de Malora diz que que sua cliente não tem participação direta em nenhum dos crimes e que ela não sabia que o que estava fazendo era ilegal.


A defesa de Miguel diz que seu cliente é advogado e apenas foi contratado por Malora. Ele vai tomar conhecimento do indiciamento e se reunir com o cliente para os próximos passos da defesa.


A defesa de Gabriel diz que ele é inocente de todas as acusações e que vai provar isso no processo.


A advogada de Rogério informou que todas as manifestações vão ser feitas na Justiça, mas que o cliente é inocente.


A reportagem não conseguiu contato com as defesas de Kanitar e do corretor Sérgio. Os dois mudaram de advogados.

 

Retificação à notícia referida

Em 23/08/2018, publicamos a notícia clipada do G1 de “golpe do seguro”, em que estaria envolvido Sérgio Augusto Côrrea de Freitas. Ocorre que, cumpre-nos informar que Sérgio Augusto Côrrea de Freitas não foi denunciado pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul sob o entendimento de que o mesmo não estava envolvido nos crimes, e a decisão foi acolhida pela Juíza de Direito da 2ª Vara do Júri do Foro Central de Porto Alegre/RS, sendo que Sérgio A. C. de Freitas será escutado unicamente como testemunha do caso em referência.

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