Notícias | 27 de março de 2014 | Fonte: Valor

Seguradoras enfrentam alta sinistralidade

Em quarenta minutos, o fogo alastrou-se no complexo logístico da Copersucar, no Porto de Santos, com capacidade estática de 300 mil toneladas e um dos maiores do mundo. Lá estavam estocadas 180 mil toneladas de açúcar. Entre os armazéns afetados estava uma estrutura nova, inaugurada meses antes, com investimentos de R$ 125 milhões.

Por ser a maior trading de açúcar e etanol do mundo, o mercado internacional da commodity ficou tenso. No dia do acidente, 18 de outubro de 2013, o demerara registrou alta na Bolsa de Nova York, chegando a subir 5% durante o pregão. A tensão foi aliviada rapidamente com a divulgação do plano de contingência e do programa de seguros contratado pela responsável por 17% do escoamento da safra brasileira.

O incêndio não causou perdas ao Porto de Santos, segundo informou a Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp). Durante o incidente, foi mantido o embarque e desembarque de mercadorias do porto. Cerca de 40 dias depois, o CEO do grupo informou aos acionistas que boa parte dos problemas estavam resolvidos e o plano de exportar 7 milhões de toneladas do produto em 2013/14 mantido.

É um bom exemplo para muitos embarcadores, transportadores e operadores portuários, que demandam um complexo programa de seguros para garantir os riscos e responsabilidades que envolvem interesses de vários segurados do operador e também de terceiros que convivem diariamente nos portos. Em 2013, a venda de seguros do segmento operador portuário registrou prêmios ganhos próximos de R$ 120 milhões, sendo a Itaú Unibanco responsável por mais de 65% do segmento.

Foi praticamente o dobro, considerando-se que em 2012 as seguradoras venderam R$ 65 milhões em apólices.

As empresas privadas (os portos públicos ainda não fazem seguro), que operam em portos molhados, são as principais clientes do mercado segurador. Segundo Maria Helena Carbone, diretora de marine da Aon, a concorrência levou os preços e franquias a patamares que tiraram o interesse das seguradoras e resseguradores pelo segmento.

Os resseguradores do exterior até pouco tempo viam o mercado brasileiro com reservas por esta razão, já que as seguradoras locais retinham pouco risco e a conta era paga pelos resseguradores. “Hoje começamos a ver alterações e o interesse do exterior pelo mercado brasileiro está voltando, o que pode ser uma promessa de tempos melhores”, comenta a especialista da Aon.

Segundo Rodrigo Vieira, gerente de transporte da AIG, a abertura do mercado de resseguros levou a uma redução de franquias e do preço dos programas de operadores portuários. No entanto, acidentes geraram perdas significativas e várias empresas deixaram de operar no segmento, gerando aumento do preço do seguro, das franquias e restrição de coberturas. “Temos o registro de poucos acidentes, mas quando eles acontecem os valores envolvidos são gigantescos”, comenta Felipe Smith, vice-presidente comercial da Tokio Marine, uma das maiores seguradoras deste segmento no mundo.

Segundo dados oficiais organizados por Victor Garibaldi, diretor da corretora MDS, de janeiro a novembro de 2013 as vendas de seguro de operadores totalizaram R$ 109 milhões e as indenizações no período R$ 140 milhões, o que significa um índice de sinistralidade de 129%. Mas isso não significa prejuízo para as seguradoras, pois elas repassam boa parte do risco para as resseguradoras.

A principal apólice comercializada é a de responsabilidade civil, que garante os danos a terceiros, entre eles prejuízos a mercadorias, a navios, a pessoas e bens. Também há cobertura de danos físicos a bens do operador e perda de receita. “Há várias possibilidades de coberturas adicionais. As mais usuais são da responsabilidade civil do empregador, danos morais, danos elétricos e quebra de máquinas”, cita.

“A carteira é rentável, mas é preciso ser especialista para gerenciar um risco tão complexo”, afirma Gilberto Espindola, líder da área marine da Allianz Global Corporate & Specialty (AGCS). “O risco de incêndio é bem administrado, mas a operação portuária tem muitos riscos que podem acontecer e não são gerenciados, como rachaduras num telhado de armazém”, exemplifica.

Segundo Espindola, é preciso que clientes, corretores, seguradores e resseguradores invistam mais no desenvolvimento da cultura de gerenciamento de risco portuário, como foi feito com a área de transporte de cargas.

Segundo Eduardo Takahashi, diretor executivo da corretora Marsh Brasil, a tendência é de aumento das vendas do seguro portuário, uma vez que os poderes concedentes, como Codesp, que administra o Porto de Santos, bem como a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) também estão ampliando as exigências com relação às coberturas securitárias para que sejam mais abrangentes. “Por exemplo, inclusão do pier, assim como solicitam outras modalidades de coberturas, como a de responsabilidade civil ambiental para novas licitações”, conclui.

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