Notícias | 23 de agosto de 2018 | Fonte: Revista Cobertura

Reflexos da criminalidade no Rio de Janeiro

Em resposta ao alto índice de violência na região, entidades do mercado de seguros unem forças para prestar apoio aos corretores

Conforme dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), no primeiro trimestre deste ano o Rio de Janeiro registrou 15,5 mil veículos roubados, aproximadamente dois mil casos a mais do que foi registrado em igual período do ano passado. Para se ter uma ideia, no mês de março houve o maior número de roubos já contabilizado, com um veículo sendo roubado a cada oito minutos.

O cenário de violência é alarmante e também preocupa o mercado de seguros. Se por um lado um impacto é o aumento dos preços das apólices, por outro, o corretor de seguros sente os reflexos da atual realidade em sua rotina de negócios.

Atualmente, os negócios em seguro de automóvel são os principais prejudicados, entretanto, é possível também que roubos de cargas e a estabelecimentos comerciais afetem os respectivos ramos de seguros.

Nos últimos meses, os corretores que atuam no Rio de Janeiro passaram a ter problemas para renovar os seguros de automóvel de suas carteiras, além de enfrentarem dificuldades para a contratação de novas apólices.

Como resposta à preocupante situação e suas prováveis consequências, algumas entidades do mercado de seguros carioca têm unido forças para auxiliar os corretores. As iniciativas têm enfoque no seguro de automóvel.

Sugestões para seguradoras

Exemplo recente disso foi dado pelo Clube dos Corretores de Seguros do Rio de Janeiro (CCS-RJ), que encabeçou uma série de sugestões para o mercado de seguros de automóvel por conta desse momento.

O Clube promoveu no mês de março o 1º Encontro dos Corretores de Seguros da Baixada Fluminense, da Zona Norte e da Zona Oeste. O evento contou com a participação de algumas seguradoras para a discussão do tema, já que as empresas atuam com esse seguro nas regiões mais afetadas.

“Nessa ocasião, foi formada uma Comissão de corretores com representantes da Zona Norte, Zona Oeste e Baixada Fluminense, além de um representante do Clube dos Corretores de Seguros do Rio de Janeiro (CCS-RJ) e um da Associação dos Corretores de Seguros da Baixada Fluminense (ACBF). Foi esse grupo que elaborou e entregou as sugestões a essas companhias, que se mostraram receptivas”, compartilha o presidente do CCS-RJ, Jayme Torres.

Entre as sugestões apresentadas pela comissão está a criação de produto ou aumento do desconto nos prêmios quando o segurado optar por franquia facultativa nos produtos atuais, por exemplo (veja box).

Orientação aos corretores

Além dessa iniciativa, o CCS-RJ participa de outras ações que visam amenizar os impactos da violência no mercado de seguros, explica Jayme Torres. “O que fazemos é alertar a população, apoiar as iniciativas do Sindicato das Seguradoras (Sindseg-RJ/ES) e denunciar os riscos de migração dos segurados para o mercado marginal das associações de proteção veicular. Participamos de diversas reportagens na grande mídia sobre esse tema, que está sempre no nosso radar, principalmente desde 2012”.

Ainda não é possível mensurar especificamente os reflexos da violência no Rio de Janeiro para o mercado de seguros, entretanto, é notório a evolução e frequência dos crimes nos últimos anos.

O presidente do CCS-RJ compartilha seu ponto de vista. “Não se tem registro histórico de nada semelhante ao que tem ocorrido no Rio de Janeiro, temos percebido muita dificuldade das seguradoras em precificar seguro de automóvel por falta de parâmetros. Tudo pode acontecer a qualquer hora, em qualquer lugar, com qualquer veículo. Ainda que a intervenção militar na segurança tenha reduzido um pouco essas ocorrências, só no primeiro semestre desse ano o número de roubo e furtos de automóveis já superou todo ano de 2017”.

Ele acrescenta que o roubo de cargas e a estabelecimentos comerciais são outras modalidades de seguros também afetadas por essa violência.
Nesse contexto, a rotina do corretor de seguros é impactada de diversas maneiras, já que esse profissional tem contato direto com o consumidor e percebe suas necessidades, bem como a dificuldade das seguradoras na aceitação de certos riscos em determinadas regiões.

“Temos muita dificuldade em explicar para o cliente o aumento do prêmio, que em muitos casos ultrapassa os 80%; a recusa da renovação do seu seguro mesmo ele não tendo acionado; e ainda alertar sobre os riscos da migração para o mercado marginal”, pondera o presidente do CCS-RJ.

Intermédio com seguradoras

Henrique Brandão, Presidente do Sincor-RJ, comenta que as entidades do mercado de seguros avaliam os dados enviados pela Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro. “O Sincor-RJ, junto com o Sindicato das Seguradoras, está atento aos planos de ações que visam a dar todo suporte as autoridades de Segurança, no que se refere aos impactos da violência no Rio de Janeiro. Acompanhamos com atenção e cobramos um posicionamento em relação às estatísticas, com intuito de auxiliar na elaboração das regras de precificação”.

Ao lembrar que a modalidade mais afetada é o seguro de automóvel, Brandão reforça que as ocorrências de latrocínios (roubo seguido de morte) e violência de maneira geral também refletem nos seguros de vida, acidentes pessoais e no ramo de saúde.

O presidente do Sincor-RJ comenta sobre o suporte que o sindicato presta aos corretores, que acionam a entidade à procura de soluções que viabilizem as condições comerciais das apólices do seguro de automóvel. “Sempre estamos ao dispor para dar suporte à categoria, apresentar alternativas e compartilhar os dados oficiais sobre roubos e furtos de veículos no estado. Os profissionais que atuam nessa modalidade, em alguns casos, apresentam dificuldades no fechamento da apólice. E quando nos procuram, acionamos algumas seguradoras e viabilizamos o processo de negociação, de forma justa, para que ambos os lados consigam obter resultados positivos, para que haja satisfação tanto para o corretor, quanto para o segurado”.

Além do acompanhamento contínuo com as entidades do mercado seguradora das demandas do Estado, em conjunto com as autoridades responsáveis pela segurança da região, o Sincor-RJ realiza eventos que auxiliam o corretor a se posicionar, além de orientar os profissionais a atuarem com bons resultados, apesar do cenário atual. “O nosso propósito é disponibilizar para a categoria as ferramentas adequadas, para que possam cumprir, com plena eficiência, a sua missão de ser o ‘anjo da guarda’ do segurado em todos os momentos”, finaliza.

Conheça algumas sugestões da comissão do CCS-RJ em conjunto com outras entidades do mercado para a comercialização do seguro de automóvel no Rio de Janeiro:

Criação de produto ou aumento do desconto nos prêmios quando o segurado optar por porcentagem da FIPE igual ou inferior a 90% nos produtos atuais. A participação do cliente no prejuízo deverá contribuir para um cuidado ainda maior do segurado com seu veículo e para reduzir proporcionalmente a sinistralidade por Perda Total (PT);

Criação ou adaptação de produtos atuais com cobertura exclusiva para Perda Total (PT), roubo e acidente com limitação da FIPE em 80% a 90%, ou aplicação de franquia com opções de 10% ou 20%. Trata-se de uma alternativa para alta demanda de clientes preocupados com maior risco, porém, com sua participação nos prejuízos, é provável que as fraudes sejam reduzidas, devendo ser atraente também para proprietários de veículos com mais de cinco anos de uso;

Nas renovações sem sinistro, limitar o reajuste do prêmio a 20%, ainda que seja necessário aumento da franquia ou limitação da porcentagem da FIPE em 85%. Essa ação evita a dificuldade de justificar alguns aumentos extremamente significativos de prêmios para segurados que não têm sinistro. Serve também para que esse segurado com bom histórico não saia do mercado.

(Foto: Reprodução/Thinkstock/VEJA)

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