Notícias | 3 de março de 2020 | Fonte: Globo Esporte

Presidentes de corretora e seguradora vão a Brasília dizer que não sabem nada sobre indenizações da tragédia da Chape

Em CPI, mandatários no Brasil da corretora Aon e da seguradora Tokio Marine argumentam que apenas sedes das empresas em Londres podem ajudar. Neto se diz cansado com descaso

“Vossa excelência, não tenho conhecimento suficiente a respeito dessas tratativas”. Essa frase, ou versões dela, foi o que mais se ouviu na sexta reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura, no Senado Federal, o atraso no pagamento das indenizações do acidente aéreo da Chapecoense que deixou 71 vítimas fatais em novembro de 2016.

Nesta terça-feira (3), a sessão ouviu (ou tentou ouvir) o presidente no Brasil da seguradora japonesa Tokio Marine, José Adalberto Ferreira, e o mandatário brasileiro da corretora inglesa AON, Marcelo Homburguer.

As matrizes das duas empresas em Londres, na Inglaterra, atuaram diretamente na negociação de contrato da seguradora boliviana Bisa Seguros com a Lamia, que permitiu à companhia aérea exercer atividade com uma apólice 12 vezes menor que o acordo anterior.

– Como as tratativas ocorreram em outro país, sob outra jurisdição, essas informações não chegam até nós. Através da área jurídica da nossa empresa até solicitei as informações sobre o caso à matriz de Londres, mas não recebi qualquer informação – justificou o presidente no Brasil da AON, Marcelo Homburguer.

– O que posso dizer é que levei ao conhecimento deles (representantes da Tokio Marine inglesa) que estavam sendo citados na CPI, e pedi pra que possam resolver a situação o mais rápido possível. Mas não tenho conhecimento de muitas das informações a respeito das negociações desse seguro específico – se defendeu José Adalberto Ferreira, mandatário da Tokio Marine no Brasil.

A postura dos dois empresários indignou senadores e vítimas e familiares da tragédia que participaram da sessão. Entre eles, destaque para o ex-zagueiro e hoje superintendente de futebol da Chapecoense, Neto, sobrevivente do acidente. Foi a segunda vez que Neto participou de uma sessão da CPI em Brasília.

– Eu perdi muitos amigos, perdi ídolos, perdi os melhores presidentes que tomaram conta de um clube que eu vi de perto. E desde que fomos em Londres, tudo o que a gente vê é um afastamento das empresas. Lá colocaram seguranças para impedir nossa entrada, e aqui há uma segurança de palavras. É o mesmo afastamento, a mesma tática. Parece que as pessoas estão brincando com a situação – lamentou Neto.

O jogador voltou a pedir a ajuda do Governo para resolver o imbróglio. Em entrevista recente ao jornal argentino Olé, Neto já reclamou da atuação das seguradoras e resseguradoras que, segundo ele, tentam usar as vítimas como produtos no caso. Hoje, ele se disse cansado de lutar por justiça depois de tanto tempo.

– Eu estou cansado, sinceramente. Estamos cansados de tudo isso. E mais uma vez a gente chega aqui e vê o descaso dessas empresas. Tem que acontecer alguma coisa, porque a gente não aguenta mais.

Expectativa adiada

Sem respostas na reunião desta terça, a esperança de senadores e familiares agora é por esclarecimentos no próximo dia 17 de março, quando mandatários das filiais inglesas da AON e da Tokio Marine serão interrogados pela CPI. A reunião também deve contar com a presença de representantes da Bisa (seguradora boliviana) e da companhia aérea Lamia.

Entenda o caso

Na época do acidente, o seguro da aeronave da Lamia era de US$ 25 milhões (cerca de R$ 104 milhões), mas os advogados das famílias contestam os valores. Eles dizem que, até 2015, a apólice era de US$ 300 milhões (R$ 1,24 bilhão) e, a partir de 2016, mesmo com o risco ampliado por passar a transportar atletas de clubes de futebol, a apólice caiu de valor.

Os advogados das famílias dizem que a Aon é responsável pela avaliação de risco de seguros e que tinha conhecimento que a aeronave sobrevoaria áreas de risco, como a Colômbia. Para não fazer o pagamento da indenização, a empresa de seguro alega que a apólice não estava paga, porém, segundo os advogados das famílias, não houve uma comunicação sobre o não pagamento da apólice às autoridades locais, o que impediria o voo.

Embora se recusem a pagar o seguro, duas empresas – Tokio Marine Kiln, sede inglesa da seguradora nascida no Japão, e a boliviana Bisa – fazem parte de um fundo humanitário que ofereceu um repasse de dinheiro às famílias das vítimas. Elas ofereceram cerca de R$ 935 mil para cada uma. Em troca, os beneficiários teriam de desistir das ações na Justiça. Ao todo, 23 famílias toparam o acordo. E 48, não.

As pessoas que organizam o protesto em Londres calculam que o valor devido pela Aon, Tokio Marine Kiln e Bisa varia entre US$ 4 milhões e US$ 5 milhões (de R$ 16 milhões a R$ 20,8 milhões) para cada família.

Foto: Marcelo Cardoso/GloboEsporte.com

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