Notícias | 7 de dezembro de 2005 | Fonte: O Estado de S.Paulo

Prejuízo nas operações dos fundos ainda é preliminar

p.B20: Economia Imagem

Prejuízo nas operações dos fundos ainda é preliminar

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SONIA RACY

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Ainda bem que o deputado ACM Neto – na apresentação de seu relatório à CPI dos Correios, com as análises realizadas por sua sub-relatoria em relação a operações dos fundos de pensão – usou a palavra ‘parcial’. Não que o número de R$ 730 milhões de prejuízo em operações de derivativos, levantadas de 2000 a 2005, não seja real. Mas ele não só é parcial, como também estanque: trata-se da soma geral e simples dos prejuízos em cada operação de derivativo feita por cada fundo.

Essas operações foram analisadas pela sub-relatoria da CPI dos Correios por tipo de produto e tipo de papel. E terão que ser casadas com movimentações na Bovespa. O trabalho de cruzamento se iniciou na sexta-feira e tem como objetivo saber quais operações realmente deram prejuízo no fim. Isso só será possível quando se tiver visão completa do que aconteceu com cada operação suspeita de fraudar o cliente (no caso os fundos), cruzada com todas as outras operações derivativas (feitas pela BM&F) e à vista (ações compradas na Bovespa). Desconfia-se que ACM Neto, apesar da boa intenção e persistência, acabou pressionado por erro seu: marcou data para divulgação dos resultados. E acabou se precipitando.

Isso não quer dizer que não houve prejuízo em operações dos fundos. Poucos têm dúvida sobre isso. Mas a sub-relatoria, que contratou a Ernest & Young para ajudar – com colaboração da CVM, Bovespa, BM&F, BC e SPC -, olhou, até agora, para cada uma isoladamente. Os técnicos da sub-relatoria precisam agora apurar, de maneira minuciosa, se cada operação que deu prejuízo, ordenada pelo fundo em questão, foi simultaneamente ‘coberta’ ou não por outra que deu lucro. Não dá para condenar uma sem saber se existe a outra. A soma das duas é que dá o verdadeiro resultado final. Se juntamente com a operação que deu prejuízo não for encontrada outra, de ‘hedge’, aí sim o prejuízo será comprovadamente real e passível de questionamento. O ‘hedge’ é prática habitual no mercado e é feito não só por fundos de pensão, mas também por empresas, bancos, pessoas físicas. No fim dos trabalhos, vale registrar, pode ser que o número apurado seja até maior que o vazado…

Vai aqui um exemplo prático de operação casada. Um fundo que tenha uma carteira de ações igual ao Índice Bovespa corre o risco de variação do valor da carteira na mesma proporção da variação desse índice. O que faz? Faz um hedge, que implica ‘vender’ índice futuro na BM&F, pois, se houver queda no valor da carteira à vista de ações, pode equilibrar sua operação com lucro no índice. Ou seja, perde em uma ponta e ganha na outra, simultaneamente. Vale registrar ainda que o mercado de futuros ajusta seus índices diariamente. O mercado de ações, apesar da volatilidade, só o faz mensalmente, em termos contábeis. Só por conta disso, imagina-se o trabalho que a sub-relatoria ainda tem pela frente.

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