Notícias | 3 de dezembro de 2020 | Fonte: Sindseg-SP

Normalização dos sinistros impacta resultados do 3º trimestre

Recuperação dos prêmios a patamares próximos ao pré-pandemia deve garantir crescimento nos últimos três meses de 2020

O terceiro trimestre apontou uma queda do resultado operacional das principais seguradoras brasileiras na comparação com os três meses imediatamente anteriores, informa o Valor Econômico. Porém, a recuperação das receitas com prêmios a patamares próximos ao período pré-pandemia pode trazer de volta o crescimento com a operação no último trimestre do ano.

Quando se considera o desempenho conjunto das três seguradoras listadas na bolsa – Porto Seguro, SulAmérica e BB Seguridade – mais Bradesco Seguros, verifica-se um recuo trimestral de 5,4% no resultado operacional, que soma R$ 3,7 bilhões. Em relação ao mesmo período de 2019, há um aumento de 14,7% nessa linha dos balanços.

A retração trimestral aparece após o segundo período do ano ter registrado um crescimento de 30,6% ante os três primeiros meses de 2020. O resultado entre abril e maio, de R$ 3,9 bilhões, foi o melhor desde o fim de 2018. É preciso, no entanto, contextualizar os números desse período, impactados por uma queda significativa de sinistros em alguns ramos devido à pandemia.

O intervalo de abril a junho foi marcado pelo momento mais agudo da crise da covid-19. Os efeitos do isolamento acabaram por ajudar a performance das companhias, porque houve queda significativa de sinistralidade em produtos como auto e saúde.

Além desse impacto, as seguradoras foram beneficiadas com uma melhora do resultado financeiro, após o reposicionamento do portfólio para capturar oportunidades surgidas com o “crash” dos mercados em março. O terceiro trimestre continuou a mostrar queda da sinistralidade ainda que em menor grau. “Sinistralidade abaixo do [nível médio] histórico permanecerá ainda por algum tempo”, afirmou o vice-presidente de seguros da Porto, Marcelo Picanço, em teleconferência com analistas.

Desde março, as seguradoras têm feito trabalho intensivo na renovação de contratos, que acabou por compensar a queda de novas vendas concentrada no segundo trimestre. Nos três meses seguintes, a emissão de prêmios começou a se normalizar, voltando aos patamares pré-crise, conforme mostram os balanços.

No momento mais crítico da pandemia, entre abril e junho, o grupo das quatro seguradoras registrou uma receita com prêmios de R$ 20,9 bilhões. No terceiro trimestre, o resultado subiu para R$ 23,2 bilhões, aumento de 11% na comparação trimestral, e em linha com o obtido no mesmo período de 2019, que alcançou R$ 23,4 bilhões arrecadados.

“O mercado começou a voltar fortemente no terceiro trimestre, com os prêmios de seguros crescendo mais de 20% em relação ao segundo trimestre”, afirmou o presidente da BB Seguridade, Marcio Hamilton Ferreira. Uma recuperação mais sustentada do lado comercial pode trazer uma melhora do desempenho operacional no quarto trimestre. “Operacionalmente o quarto trimestre tende a ser melhor em relação ao ano passado”, afirmou o diretor de finanças e relações com investidores da BB Seguridade, Rafael Sperendio. “Temos visto uma recuperação principalmente da performance comercial, com ritmo mais acelerado do que prevíamos inicialmente”, segundo o executivo.

Outro fator que pode ajudar na retomada do crescimento de resultados operacionais, a partir do primeiro trimestre de 2021, é a mudança regulatória proposta pela Superintendência de Seguros Privados (Susep), atualmente em consulta pública. Prevista para começar a vigorar em janeiro, a mudança propõe a substituição do provisionamento de um adicional contra risco de liquidez pelas seguradoras por um plano individualizado no qual cada companhia detalharia ações a serem tomadas para assegurar a liquidez em momentos de crise ou de funcionamento normal dos mercados.

A previsão do regulador é que a norma possa liberar até R$ 7,5 bilhões atualmente estocados nos balanços das empresas. Esse montante poderá ser utilizado como investimento no negócio pelas seguradoras. O efeito da combinação de menor sinistralidade com uma retomada econômica, porém, tende a suavizar ao longo do próximo ano, à medida que os procedimentos de saúde represados voltem a ser realizados e o movimento de veículos se intensifique.

Segundo a vice-presidente de saúde e odonto da SulAmérica, Raquel Giglio, a sinistralidade de saúde e odonto começa a se aproximar dos níveis pré-pandemia, após um recuo significativo no segundo trimestre. “O resultado reflete um processo de retomada de frequência de procedimentos, incluindo aqueles represados nos meses anteriores”, apontou a executiva em teleconferência com analistas.

A pandemia também deixa como legado às seguradoras um maior investimento em digitalização de processos e no atendimento aos clientes. A SulAmérica, por exemplo, realizou mais de 400 mil atendimentos por meio de telemedicina desde o início da pandemia. “A troca do pronto-socorro por um primeiro atendimento on-line ou telefônico pode ser uma tendência de mais longo prazo”, apontou Raquel. Essa transformação digital também pode ajudar a criar novo impulso de aceleração em termos de eficiência operacional em um cenário pós-pandemia.

Nos últimos trimestres, os resultados indicavam que as companhias poderiam ter atingido um momento de desaceleração desse ganho operacional. Após avanços contínuos em todos os balanços desde o fim de 2017, ocorreu uma queda na soma do resultado operacional das quatro seguradoras em 2019, com duas retrações seguidas no primeiro e segundo trimestres de, respectivamente, 29% e 0,63% na comparação com os períodos imediatamente anteriores. Frente aos mesmos períodos de 2018, os três primeiros meses de 2019 tiveram um recuo de 22,8%.

Já o segundo trimestre do ano passado registrou retração anual de 27% no resultado operacional. O grupo, no entanto, recuperou-se nos balanços seguintes, com altas anuais de 9,85% no terceiro trimestre e de 6,7% no quarto. Porém, o primeiro intervalo deste ano voltou a apresentar recuo no resultado operacional, de 11,2%, em comparação ao trimestre anterior.

Em termos de lucro líquido, o conjunto das empresas teve queda de 11,6% ante o terceiro trimestre do ano passado para um total de R$ 3,1 bilhões. Frente ao segundo período de 2020, a linha apresentou recuo de 8,5%.

No caso do lucro, o que pesou contra foi o menor resultado financeiro. Entre julho a setembro, a rubrica apresenta uma queda trimestral de 17,8% e anual de 44,15%. Essa linha tem apresentado recuo na comparação trimestral desde o início de 2017. A queda da Selic tem impactado diretamente o ganho financeiro do investimento das reservas técnicas das seguradoras.

As companhias também sofreram perdas recentemente com a volatilidade da renda variável, especialmente em setembro, quando a discussão sobre os rumos fiscais do país gerou forte recuo dos preços dos ativos na B3. Desde 2017, a variação anual dos resultados financeiros só passou para o terreno positivo no quarto trimestre de 2019 e depois no segundo período de 2020, devido ao momento atípico do mercado. Mas, logo em seguida, voltou a apresentar recuo.

A queda do resultado financeiro coincide com o ciclo de baixa da Selic, que teve início em outubro de 2016. De lá para cá, a taxa básica recuou de 14,25% ao ano aos atuais 2%.

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