Notícias | 26 de outubro de 2005 | Fonte: O Estado de S.Paulo

Mercado aposta em aumento da captação

João Carlos de Oliveira

O presidente da Associação Nacional da Previdência Privada (Anapp), Osvaldo do Nascimento, aposta que o setor vai captar R$ 1 bilhão a mais neste fim de ano em relação a igual período do ano passado e deve fechar 2005 com R$ 82 bilhões em reservas.

Nascimento, também executivo da Itaú Vida e Previdência, diz, nesta entrevista exclusiva, que as novas regras tributárias são parecidas com as dos Estados Unidos e 2006 será um ano positivo para o setor. A seguir os principais trechos da entrevista.
Como é o mercado de previdência privada no Brasil?

Os investimentos de longo prazo crescem em função da estabilidade econômica, do crescimento da economia e do incremento da renda. Estes são os elementos essenciais.

Os investimentos na previdência complementar se encaixam neste contexto. Os fundos de previdência se diferenciam dos demais fundos por uma série de aspectos. E o principal deles é o tributário.

Antes de tratar da tributação, o sr. poderia descrever quais são os principais produtos disponíveis no mercado?

O nosso mercado é segmentado. O produto para as pessoas que fazem declaração completa do IR é o PGBL. Nele, o governo permite que as aplicações sejam deduzidas na declaração anual do IR em até 12% da renda bruta tributável.

Este é um produto para pessoas que atuam no mercado formal de trabalho e têm renda mais alta. Agora, se o investidor quiser aplicar mais de 12% da renda bruta ou, ao contrário, se tem renda mais baixa e faz a declaração simplificada, é isento ou atua na economia informal, o produto recomendado será o VGBL. Nele, a tributação é sobre o ganho e paga só no momento do resgate.

Como é a tributação?

Hoje, o Brasil tem produtos com tratamento tributário muito parecido com o que existe em países desenvolvidos, como os Estados Unidos. O mercado está vivendo uma fase de acomodação.

O investidor pode escolher o regime de tributação entre progressivo, que é o atual, e o regressivo ou definitivo. Se puder optar pela regressiva, a alíquota de imposto cai cinco pontos percentuais a cada dois anos, começando em 35% e sendo reduzida até 10%.

Na progressiva, qual é a alíquota?

É a mesma tabela que se aplica ao salário. Tem alíquota zero, 15% e 27,5%. Assim, para quem tem um volume baixo de recursos para aplicar, a tabela regressiva não é adequada. Dependendo do volume, a aplicação pode ser isenta.

A tabela regressiva beneficia apenas os que têm um volume maior de recursos para aplicar. Outro dado que deve ser levado em conta é o valor da renda complementar que se pretende atingir na aposentadoria. Se ela ficar abaixo de R$ 4 mil por mês também não compensará a opção pela tabela regressiva.

No caso do Itaú, qual é a renda complementar futura que o cliente busca?

No varejo, somos focados em empresas. São VGBLs ou PGBLs com contribuição mensal. Nos segmentos de maior renda, o perfil é o investidor.

Nesta faixa, em média, o costume é fazer um aporte inicial de R$ 20 mil e aplicar R$ 300 por mês. O alvo é buscar uma complementação de aposentadoria entre R$ 3 mil e R$ 4 mil.

Mas, voltando, quando a opção pela tabela regressiva é positiva?

Para as pessoas que têm renda mais alta e podem esperar por prazos mais longos. Nesse caso, a opção é muito benéfica. No PGBL, por exemplo, depois de quatro anos, a alíquota de imposto já é menor. No caso do VGBL, a espera é maior, de seis a sete anos.

Qual tem sido o comportamento dos investidores?

O percentual maior tem optado pela tributação progressiva. Na dúvida, nós recomendamos que fique mesmo na progressiva. Se é para errar, que o cliente fique na tributação que dá acesso ao desconto de 12% no IR. Hoje é muito comum que as pessoas tenham dois produtos, cada um com uma tributação.

No caso dos planos antigos, os que optaram pelo novo regime regressivo não chegam a 5%; nos novos planos, ficam pouco acima dos 10%. Com uma maior conscientização, acho que o ponto de equilíbrio será ao redor de 15%.

Afinal, não posso perder de vista que a renda no Brasil é muito ruim e é meio utópico imaginar que a parcela da população que busca uma renda futura de R$ 5 mil seja maior do que este universo.

2005 não foi um ano positivo.

O mercado, este ano, cresceu menos. Ele cresceu 5% a menos no primeiro semestre comparado com o mesmo semestre do ano anterior, mas cresceu.

Por quê?

Porque a mudança no regime tributário só foi regulamentada no final de maio e início de junho. O mercado se ressentiu disso.

Mas como, normalmente, a captação no segundo semestre responde por 65% do total, podemos fechar o ano com um pouco mais crescimento do que o obtido no ano passado. O setor deve fechar o ano com reservas em torno de R$ 82 bilhões, com um crescimento da ordem de 37%.

Nós acreditamos que, nos últimos quatro meses do ano, as reservas devem crescer R$ 12 bilhões. Nestes quatro meses, só com os juros elas vão aumentar cerca de R$ 4 bilhões. (1)

As captações líquidas devem responder por algo como R$ 8 bilhões. Elas serão maiores do que as do ano passado em cerca de R$ 1 bilhão no período.

O sr. considera que o setor vai continuar crescendo no ritmo atual?

Em 2006, o setor deve ultrapassar os R$ 100 bilhões em reservas já no primeiro semestre. O ano deve fechar com reservas de R$ 110 bilhões, com um crescimento de 34%. Este resultado será um grande sucesso.

Não é fácil manter esse ritmo de crescimento. Afinal, não se cria poupança. A poupança decorre do crescimento da renda. O mercado de previdência deveria crescer no mesmo ritmo do PIB. Hoje ele cresce mais porque estamos em uma fase de acomodação.

Mas, acredito, estamos perto do momento em que o mercado chegará ao seu tamanho. E, aí, vamos crescer no mesmo ritmo do PIB, como é em qualquer lugar do mundo.

FAÇA UM COMENTÁRIO

Esta é uma área exclusiva para membros da comunidade

Faça login para interagir ou crie agora sua conta e faça parte.

FAÇA PARTE AGORA FAZER LOGIN