Notícias | 6 de outubro de 2005 | Fonte: Valor Econômico

Medindo a temperatura de possíveis riscos políticos

Riscos políticos costumavam preocupar apenas as grandes multinacionais. À medida que mais companhias passaram a globalizar processos de terceirização e vendas, contudo, essa exclusividade virou coisa do passado. Hoje, a gestão de risco político tem importância crescente na agenda da maioria dos altos executivos.

Curiosamente, a impressão passada por administradores é a de que riscos políticos são completamente diferentes de outros tipos de risco, como os de mercado. Executivos que se mostram dispostos a fazer apostas arriscadas em relação a posicionamento e produtos, por exemplo, revelam uma surpreendente aversão a risco político.

Historicamente, uma das razões dessa tendência é que o risco político é difícil de quantificar e, portanto, difícil de encaixar em modelos. Mas o quadro está mudando com o surgimento de novas tecnologias que facilitam compilação, processamento e análise de dados em tempo real e de maneira abrangente.

Como resultado, os executivos passaram a recorrer a ajuda externa. Existem centenas de empresas de consultoria que orientam clientes sobre riscos políticos em mercados específicos, e outras tantas que oferecem serviços de monitoramento, análise e advertência. Com base em sofisticadas técnicas de modelagem de risco e em informações atualizadas praticamente em tempo real, esses consultores aconselham companhias a entrar ou sair de um país.

Mas abandonar um mercado prematuramente é difícil e, na maior parte dos casos, financeiramente desastroso. Por isso, as seguradoras oferecem apólices contra riscos políticos residuais. Essas apólices reduzem ou eliminam o nível de vulnerabilidade em casos de inconversibilidade de moeda, quebra de contrato por parte de governos, expropriações, agitação civil ou guerra.

De fato, preocupações acerca de riscos políticos já chegaram a constituir sérios obstáculos a investimentos estrangeiros diretos e a programas de desenvolvimento. Em resposta a esse quadro, o Banco Mundial criou sua própria seguradora de riscos políticos, que oferece apólices e cobertura semelhantes às de instituições privadas, a fim de incentivar investimentos externos em países específicos.

Se alguém duvidava que instabilidades políticas em regiões aparentemente remotas do globo pudessem causar impacto direto no mundo dos negócios, tais dúvidas foram desfeitas pelos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. Em Nova York, e depois em Bali, Istambul e Sharm el-Sheikh, instalações comerciais foram diretamente alvejadas. Em Madri e Londres os terroristas abalaram a infraestrutura de transporte urbano, fator essencial para o funcionamento dos negócios.

Esses eventos também tiveram efeitos importantes na área de seguros. Como era de se esperar, o valor dos prêmios disparou porque as seguradoras tentam agora se recuperar dos prejuízos e repassar custos de possíveis pagamentos futuros. Apenas em Nova York, os prêmios para grandes apólices aumentaram em média 73% no ano seguinte aos ataques.

Ao mesmo tempo, o número de empresas que não conseguiram a cobertura de seguro desejada aumentou consideravelmente. No caso de companhias aéreas, os governos intervieram imediatamente depois de 11 de setembro quando as seguradoras começaram a cancelar apólices já existentes da noite para o dia. Apesar de muitas resseguradoras terem passado a oferecer apólices que limitavam a responsabilidade, a perspectiva de que a onda de terrorismo global se estenda por décadas levou muitas empresas a considerar a hipótese de simplesmente não mais assegurar linhas aéreas contra terrorismo em razão do “risco incalculável”.

A situação do mercado de seguros ilustra como o gerenciamento de risco ligado a terrorismo se transformou em um desafio comercial. Num contexto como esse – em que os custos estão na ascendente – uma política de negócios inteligente precisaria naturalmente centrar esforços na redução do risco em questão, e não apenas em pagar para cobrir o prejuízo.

Em termos práticos isso parece viável, ao menos parcialmente. As companhias aéreas investiram centenas de milhões de dólares para reforçar a porta da cabine dos pilotos e adotar outras medidas de segurança. Enquanto isso, milhares de outras empresas investiram em itens de segurança que vão de câmeras a detectores de metal e guardas que vigiam sistemas de ventilação e ar condicionado. Entretanto, segurança total é algo que não existe e os consultores da área geralmente oferecem proteção contra o tipo de ataque que acabou de acontecer, ou seja, por mais que busquem se atualizar estão sempre um passo atrás.

Se a proteção contra o risco do terrorismo é limitada, que papel desempenham as empresas na prevenção de atos terroristas?

No nível tático, o envolvimento ativo da comunidade de negócios é essencial para desmontar a infraestrutura que sustenta o terrorismo global. A luta contra a lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo, por exemplo, deve ser travada por bancos e corretoras financeiras e de seguros. Em outras palavras, quando se trata dos recursos que bancam terroristas, as empresas estão na linha de frente.

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