Notícias | 22 de setembro de 2003 | Fonte: Gazeta Mercantil

Juros menores obrigam seguradoras a mudar estratégia

A queda da taxa básica de juro de 26% ao ano para 20% promovida até agora pelo Comitê de Política Monetária (Copom) e a perspectiva de novas reduções forçam as seguradoras a reformularem rapidamente a estratégia de atuação.
Estima-se que a receita financeira do mercado de seguros deverá apresentar uma retração de aproximadamente R$ 640 milhões no segundo semestre deste ano com as quedas da Selic – a compensação terá de ser buscada na atividade operacional.
“Elas estão numa sinuca de bico”, comentou José Rubens Alonso, sócio da KPMG, especializado em seguros. Como no jogo, há saídas. Boas e más. Para se chegar esse valor, a KPMG considerou o estoque das aplicações em títulos de renda fixa no final de junho, de R$ 26,5 bilhões, desconsideradas as aplicações em títulos de renda variável e quotas de fundos especialmente constituídos (aplicações vinculadas a PGBL e VGBL cuja rentabilidade é repassada aos participantes).
Foram consideradas as quedas da taxa Selic já ocorridas nos meses de julho/agosto/setembro e projeção de quedas uniformes e graduais no quarto trimestre, até chegar a 18% em dezembro próximo. O resultado financeiro gerado por esse cenário foi comparado com a rentabilidade que seria auferida no segundo semestre de 2003 caso a taxa Selic permanecesse no patamar praticado em junho deste ano, de 26%.
Para Alonso, a queda da taxa básica deverá conduzir as seguradoras a uma política mais agressiva de investimento. Com as altas taxas praticadas até hoje, ser diretor financeiro era uma tarefa simples. Aplicava-se num papel de risco baixo e de excelente resultado. Com a projeção de se chegar em dezembro com taxas em torno de 18% ao ano, esse profissional terá de ser criativo e buscar aplicações de maior risco para ter maior retorno.
Além de aumentar o ganho financeiro para compensar a queda dos juros, as seguradoras terão de aumentar o preço em contrapartida da queda dos juros.
As que não fizerem vão comprometer os resultados”, frisou Alonso. Segundo o consultor, os preços do seguro estão estabilizados em função da rentabilidade financeira que existia e permitia às companhias a operem com isso. “É uma questão técnica e não comercial”, explicou. Mesmo assim, as companhias deverão contabilizar perdas no resultado, em razão do reajuste de preço produzir um efeito diluído ao longo de doze meses – prazo da vigência da maioria dos contratos -, enquanto o impacto dos juros ocorre de forma imediata.
Para o consultor de seguros Luiz Roberto Castiglione, proprietário da consultoria Castiglione Business, de nada adianta lançar produtos, agregar diferenciais, investir na qualidade dos serviço se a rentabilidade do negócio e a lucratividade para seus acionistas não estiver num patamar adequado.
“De que adianta vender muito mais mal? De que adianta ter qualidade na prestação dos serviços se esta poderá vir a ser temporária em função da baixa lucratividade do negócio? De que adianta lançar novos produtos sem ter o acompanhamento necessário para correção de rumos? De que adianta ter um negócio se este acaba sendo financiado pelos recursos dos acionistas?, questionou o consultor.
A fórmula do lucro das seguradoras, a grosso modo, é calculada com base nas taxas praticadas pelo mercado financeiro. Quando os juros estão elevados, geralmente a qualidade da carteira de riscos das seguradoras é sacrificada, uma vez que elas reduzem o preço do seguro para aumentar a arrecadação de prêmios, visando o ganho com a aplicação no mercado financeiro. Quando
a taxa de juro cai, o caminho se inverte. O preço do seguro sobe e a qualidade do risco assumido volta a ser prioridade para compensar a perda financeira e obter lucro da própria operação.
Com a política adotada pelo governo de manter as taxas de juros elevadas no primeiro semestre deste ano para conter a inflação, a grande maioria das seguradoras registrou prejuízo operacional, compensado pela rentabilidade dos títulos de renda fixa.
Algumas companhias reajustaram os preços desde o início do ano e muitas acabaram por perder participação em razão de ser um mercado sensível a tais movimentos de preço, principalmente em razão da demanda estar reprimida pelo desaquecimento da atividade econômica. E perder mercado também é uma saída ruim, pois os juros, apesar da queda, ainda são considerados
exorbitantes em relação a países desenvolvidos.
A estratégia para sair desse impasse será um equilíbrio em todas as decisões, como de redução de custos, aumento das vendas, manutenção da qualidade de subscrição de riscos e muita criatividade para remunerar bem o acionista a partir de agora.
“No longo prazo, a queda da taxa de juro é extremamente benéfica para as seguradoras, que seguem o ciclo de evolução da economia do País. Quanto mais rico um País e sua população, mais seguro se vende para a preservação do patrimônio”, finalizou Manoel Gomes Carvalhal, diretor da Mafpre Vera Cruz.

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