Notícias | 25 de outubro de 2005 | Fonte: Valor Econômico

IRB eleva contrato para US$ 300 mi

Janes Rocha De São Paulo

A estatal IRB-Brasil Re espera fechar até fim de novembro a renovação do principal contrato de resseguros do país, o de propriedades (“Properties”) com um valor de cobertura automática de US$ 300 milhões, acima dos US$ 240 milhões atuais. Também chamado no jargão do mercado internacional de “Tratado”, o “Properties” é a apólice que garante o resseguro automático das seguradoras que operam com grandes riscos empresariais (cobertura para danos físicos e perdas financeiras causados por incêndios e acidentes em instalações como fábricas, usinas hidrelétricas e plataformas de petróleo).

O valor é um recorde para esta que é uma das maiores apólices de resseguros do mundo. Mas a grande novidade deste ano na renovação do “Properties”, que existe há 16 anos, é que pela primeira vez, nos 66 anos do IRB, foi promovida uma concorrência entre as corretoras, abrindo a participação a todos que tivessem interesse no contrato. Em outro contrato, o das apólices de vida, o IRB simplesmente dispensou os corretores e está renovando diretamente com as resseguradoras internacionais. O resseguro de vida é bem menor, de apenas US$ 2,5 milhões em prêmios, por isso está sendo usado como teste de contratação direta.

Na sexta-feira foi definido o consórcio das corretoras Willis (líder, com 50% do contrato), Benfield e Cooper Gay para administrar o “Properties” no período de 1º de dezembro de 2005 a 1º de dezembro de 2006, substituindo o anterior liderado pela Aon e Jardine Lloyd Thompson Group (JLT).

Em entrevista ao Valor ontem, Marcos Lisboa, presidente do IRB, comemorava a proposta apresentada pelo consórcio: “Aumenta a cobertura para US$ 300 milhões, amplia a capacidade de retenção (de riscos) do IRB em mais de 50%, por um custo total menor”, afirmou, evitando dar detalhes da operação até que esteja concluída. Em 2004 já houve uma redução de 8%.

Segundo Lisboa, na primeira convocação, realizada há um mês e meio, apareceram 25 corretoras interessadas. Após uma seleção de capacidade técnica e financeira, sobraram 14. Depois de uma apresentação de propostas e passarem pelo crivo de um novo sistema de pontuação – que levou em conta histórico de eficiência -, sobraram nove. Estes nove se dividiram em três consórcios de três corretoras, dos quais venceu a proposta do grupo liderado pela Willis.

Para Lisboa, a concorrência levou as corretoras a melhorarem suas propostas. Mas o IRB também foi ajudado por uma conjuntura favorável ao Brasil. O mercado internacional de resseguros não anda minimamente disposto a reduzir preços por causa dos grandes prejuízos das resseguradoras com os efeitos dos furacões que se sucedem na costa americana. Mas o consórcio parece ter convencido o mercado de que “o Brasil não está exposto a furacões”, como definiu Américo Lopes, principal executivo da área de resseguros da Willis. Isso sempre foi verdade, mas até agora o país ficava tão sujeito às altas e baixas de preços e aos efeitos de catástrofes quanto as regiões vítimas – foi o que aconteceu, por exemplo, depois dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 em Nova York. “Enquanto não há como prever onde haverá atentados terroristas, hoje temos mapas que indicam com certa precisão onde há riscos de catástrofes naturais”, disse Américo Lopes.

Como estatal monopolista, o IRB sempre escolheu os corretores de resseguros com quem desejava operar, segundo critérios pouco claros. Depois do escândalo do “Mensalão”, em que foi revelado o tráfico de influência entre corretoras e o comando da estatal, a diretoria anterior foi demitida e Lisboa foi designado para não só assumir o comando do IRB mas também prepará-lo para a abertura do mercado de resseguros – o que depende da aprovação pelo Congresso de um projeto de lei.

A presença da Cooper Gay no consórcio vencedor causou uma certa polêmica no mercado, já que ela é mencionada no próprio relatório da comissão de sindicância do IRB sobre as irregularidades apontadas nas denúncias do escândalo do “Mensalão”, enviado ao Ministério Público. Lisboa disse que a corretora preencheu todos os requisitos, apresentou uma das melhores propostas e que não cabe ao IRB se antecipar no julgamento do caso, o que poderia expor a estatal a uma ação judicial.

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