Notícias | 1 de novembro de 2005 | Fonte: Luiz Azenha, do site www.viomundo.com.br

Interbrazil – Empresário grava entrevista e se desmente na CPI

Ele confirmou que abasteceu o caixa 2 de seis partidos
Fonte – Luiz Azenha, do site www.viomundo.com.br
A denúncia foi ao ar no Jornal Nacional, depois de uma investigação feita por uma equipe de jornalistas da qual fiz parte.

A seguradora Interbrazil, liqüidada em agosto de 2005, teria abastecido o caixa dois do PT em Goiânia durante uma campanha coordenada por Adhemar Palocci, irmão mais velho do ministro da Fazenda.

O Brasil com z mostra que os donos da empresa não estavam para brincadeira.

Depois da posse do governo de Lula, em 2002, o faturamento da empresa disparou.

A investigação nasceu de denúncias de ex-funcionários.

A reportagem foi ao ar no JN, com mais de oito minutos de duração.

Em reação a ela, a CPI dos Correios chamou para depor o diretor-presidente da empresa, André Marques da Silva.

Deputados e senadores queriam saber porque ele havia ajudado campanhas eleitorais e que benefícios recebeu em troca.

Em seu depoimento, André confirmou que ajudou políticos de seis partidos, em seis estados, nas eleições de 2004.

André afirmou que não queria ser esquecido pelos políticos, quando precisasse deles no futuro.

Atacou a reportagem da TV Globo, alegando que a edição havia distorcido a entrevista dele.

Negou que tivesse se encontrado em Brasília com Adhemar Palocci, depois que o irmão do ministro assumiu um cargo de diretor da Eletronorte, em março de 2005.

Feito o irmão, Adhemar Palocci é de Ribeirão Preto.
Transferiu-se para Goiânia para dar aulas em uma universidade.
Serviu durante quatro anos ao prefeito petista de Goiânia, Pedro Wilson, de 2000 a 2004.
Teriam partido de Adhemar os pedidos de ajuda a André Marques, durante a campanha de reeleição de Pedro Wilson.

O depoimento de André Marques contradiz em vários pontos a gravação que fiz com ele.
Abaixo, reproduzo degravação resumida da entrevista com André Marques da Silva.

Algumas frases foram editadas para facilitar o entendimento, sem prejuízo ao conteúdo.

O dono da seguradora disse à CPI que a gravação com a TV Globo havia durado três horas.

Não é verdade: conversamos durante uma hora e quarenta minutos.

AJUDA AO PT DE GOIÂNIA

O senhor já contribuiu com algum partido político?
Não.

Com alguma campanha política?
Também não.

O senhor ajudou a campanha do Pedro Wilson, candidato a prefeito de Goiânia?
Uma das empresas minha ajudou fazendo material gráfico, mas abaixo do preço, na tentativa de ajudar porque Goiânia é o meu local de residência, foi lá que eu nasci.

AJUDA A OUTROS PARTIDOS

O senhor contribuiu para outros partidos?
Provavelmente. Se teve contribuição foi não só para o PT, mas para outros partidos também.

Que outros partidos?
Por exemplo, a gente tinha muito foco no trabalho em São Paulo, pode ter sido para o PSDB, PTB, PP…

José Serra?
Provavelmente, só estou conjecturando. A gente precisava era estar presente nos momentos em que seriam decididas as grandes obras, que geram realmente os grandes contratos de seguros. E toda seguradora hoje faz esse trabalho.

O senhor está me dizendo então que trocava apoio material para campanhas para saber onde iam acontecer as grandes concorrências?
Não, porque hoje, por exemplo, quem participa dos comitês junto a qualquer prefeitura, estado, qualquer que seja a esfera governamental, hoje para qualquer investimento de grande porte existem essas comissões.
Aqui em São Paulo, por exemplo, existe a ARTESP (Agência de Transporte do Estado de São Paulo, empresa que cuida das concessionárias de rodovias), que tem as comissões técnicas. A gente procurou estar inserido ali para que pudesse realmente obter as informações. Segredo comercial, realmente sair à frente pra poder ir buscar o nosso mercado.

O senhor queria então obter segredos comerciais?
Não, segredos comerciais para a Interbrazil. Obter informações para que eu pudesse trabalhar com agilidade, né?

Quando o senhor contribuía com partidos políticos o senhor queria ter acesso a informação?
Talvez, podemos colocar assim. Não trabalhando como se trabalhou no passado, vamos dizer, por trás dos panos. Tanto que nós participamos de todas as concorrências.

O senhor declarou essas contribuições aos partidos, ao PT?
Olha, se houve todas as contribuições, sairam da Interbrazil. Como foi feita a declaração eu não posso informar, agora, exatamente. Teria que esperar o processo de liqüidação para verificar (nos arquivos da empresa).

SOBRE ADHEMAR PALOCCI

O senhor conhecia o sr. Adhemar Palocci?
Conhecia lá de Goiânia, como secretário de Finanças (da Prefeitura).

Ele é que pedia pagamentos para o PT?
Não sei, não sei.

Nunca o senhor foi comunicado de um pedido de pagamento dele?
Do Adhemar para mim, não. Nunca falei com ele sobre pagamentos. O que a gente falava era sobre política.

Em setembro do ano passado, antes da eleição, o senhor não recebeu, através de seu irmão, um pedido de pagamento de despesas de Adhemar?
Se recebi, recebi através de e-mail.

O senhor nunca conversou por telefone com o senhor Adhemar?
Conversava por telefone com o Adhemar, mas sobre pagamentos e recebimentos nunca foi tratado isso. Nunca, comigo não.

Quantas vezes o senhor conversou com ele, o senhor se lembra?
Ah, não lembro. Eu sempre conversei com ele porque eu não tinha nenhuma objeção de falar com ele.

Sobre que assuntos os senhores tratavam?
Na época da campanha, sobre como estava o Pedro Wilson, como estava o andamento da campanha.

A Maria Cristina da Cruz diz que ela ligava para Brasília para marcar os encontros do senhor com o Adhemar Palocci lá em Brasília…
Sim, ela é assessora, sempre encontrei com o Adhemar.

Quantas vezes o senhor encontrou o senhor Adhemar Palocci?
Talvez três ou quatro vezes.

E vocês tratavam de que assunto?
Nós tratávamos sobre operações. Hoje ele é diretor da Eletronorte. Falávamos sobre alguma operação em que poderia haver investimentos. Então a gente estava ligado nas áreas onde teria investimento. Por exemplo na área do Norte (do Brasil) existem poucas sucursais e poucas matrizes de seguradoras que dão apoio ao pessoal da área. Então ele passava informações. Não passava informação, nada que eu não pudesse descobrir acessando (a internet) ou pegando informações na própria empresa. Como eu conhecia, sentava com ele e conversava, mas nada que não pudesse passar para mim e para você ou qualquer pessoa que perguntasse. Não tinha nenhuma informação privilegiada.

Nota do redator: a Eletronorte é uma concessionária de serviço público de energia elétrica, sociedade anônima de economia mista, subsidiária das Centrais Elétricas Brasileiras S.A. – Eletrobrás. A sede da empresa fica em Brasília.
Nessa época ele trabalhava já na Eletronorte? Essa época em que o senhor encontrou com ele?
Essa época é agora. Maio, junho, abril de 2005.

Depois que ele assumiu na Eletronorte?
É, depois. Ele assumiu a Eletronorte, salvo engano, em março. Fui lá buscar um contato político para ver se eu tinha condições de investimento, de buscar alguma fonte de mercado.

Algum cliente?
Algum cliente, mas infelizmente o processo, desde a campanha pra cá… Não consegui as próprias renovações de contas. Nós estávamos impedidos pela SUSEP (Superintendência de Seguros Privados, órgão que fiscaliza as seguradoras) de ter a certidão, então antes da liqüidação a gente perdeu a conta do porto de Paranaguá, perdeu a conta da COPEL (Companhia Energética do Paraná), que tinha pedido pra cancelar e também Docas de Santos, que pediu o cancelamento porque atrasamos o pagamento de um sinistro.

Mais tarde, voltamos a falar dos encontros entre André e Adhemar:

O senhor queria saber o que (nos encontros com Adhemar)?
Na área do Tocantins, por exemplo, onde conseguir informações sobre as PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas), aquele projeto que o governo Fernando Henrique lançou. Onde eu descobria informações sobre essas usinas? Ali tem um processo de venda antecipada de energia que precisa de seguro-garantia, entendeu?

O senhor queria saber onde é que poderia ganhar dinheiro?
Exatamente, normal, considero que todo empresário deveria fazer e faz.

E o Adhemar Palocci dava dicas para o senhor?
Não, a única coisa que ele me passava era: na área do Norte, o investimento mais focado é no Tocantins, as usinas (PCHs) não pegaram. Depois viemos a descobrir que estava na internet, a Eletrobrás colocou que os projetos das usinas estavam com problema.

O Adhemar dizia onde o senhor poderia ganhar dinheiro?
Não, onde eu poderia atuar na busca de clientes.

Insatisfeito com as explicações dadas por André Marques à CPI, o sub-relator Carlos Wilson sugeriu que Adhemar Palocci seja chamado para depor. A seção Onde Trabalho traz outros textos sobre este assunto.

Link para a matéria – http://viomundo.globo.com/site.php?nome=OndeTrabalho&edicao=255

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