Notícias | 21 de maio de 2018 | Fonte: Jornal O Globo

Índice de roubos de carros faz valor de seguros subir até 47%

Na Zona Norte, seguradoras recusam o serviço

Em 2018, o morador de Niterói que quiser fazer um seguro de carro pode sentir doer bem mais no bolso. Levantamento realizado por uma plataforma on-line de contratação de seguros aponta que, em alguns bairros, como Camboinhas, o valor médio a ser desembolsado chega a ser 47% mais alto do que o orçado há um ano. No Largo da Batalha, por sua vez, o valor médio de uma apólice chega a R$ 6.669. O alto índice de roubos a veículos é apontado como o principal fator para o aumento nos valores; e o morador da Zona Norte, região líder no registro de crimes dessa natureza, é o que mais tem dificuldades para conseguir segurar seu carro, apesar de encontrar preços mais baixos.

A pedido do GLOBO-Niterói, a Bidu Corretora orçou, com diferentes seguradoras, o valor da apólice para um Hyundai HB20 Comfort 1.0 — modelo considerado popular para os padrões nacionais — para moradores de diferentes bairros. O eventual cliente teria o seguinte perfil: ser homem de 35 anos e que percorre, diariamente, entre 20 e 30 quilômetros.

De um total de cinco empresas, apenas duas aceitaram o risco de segurar o veículo para os bairros do Fonseca e do Barreto. Mas ofereceram valores inferiores aos dos demais bairros. José Varanda, professor da Escola Nacional de Seguros, explica esse fenômeno:

— Cada seguradora segue sua carteira. Apesar dos índices de violência, se o histórico de uma determinada empresa é bom na região, ela pode vir a oferecer preços que divergem do mercado.

Paulo Oliveira, de 32 anos, é morador do Barreto. Desde o ano passado, vinha tentando renovar o seguro de seu Honda Civic 2013. Após entrar em contato com várias seguradoras, o contrato mais barato que lhe ofereceram foi por R$ 8 mil anuais, o dobro do valor desembolsado um ano antes. Após assumir a despesa, arrependeu-se e decidiu vender seu carro.

— Todas as seguradoras que procurei falaram que estavam cobrando mais caro por causa do aumento de roubos. Para não pagar um valor tão alto mensalmente, decidi comprar um carro mais antigo, um Honda Civic 2006, cujo seguro saiu por R$ 2.400.

Violência compromete apólice

De acordo com o diretor executivo do Sindicato das Seguradoras do Rio e Espírito Santo, Ronaldo Vilela, são inúmeras as variáveis utilizadas para a avaliação final do preço de um seguro. E um crescimento exponencial no índice de roubos de veículos pode influenciar, majoritariamente, nos valores encontrados ano a ano.

— Nenhuma seguradora altera seus preços em um período muito curto. Se, em um ano ou mais, um mesmo seguro se tornou muito mais caro, certamente o fator violência teve um peso fundamental — explica o especialista.

Proprietário de um Hyundai HB20, ano 2016, Ciro de Hollanda é mais um prejudicado com o aumento. Estudante da UFF e morador de Icaraí, ele usa seu carro todos os dias. O mesmo seguro contratado por R$ 2.060 há um ano mais do que dobrou, sendo agora orçado em R$ 4.200. Hollanda conta que chegou a procurar outras oito seguradoras, mas nenhuma se propôs a, ao menos, orçar um contrato, sob o argumento de que o modelo é muito roubado.

— Não sei nem se vale a pena continuar com o carro ou colocá-lo à venda. Paguei cerca de R$ 40 mil no veículo, e agora preciso pagar 10% desse valor, todos os anos, só para manter o seguro? — lamenta o estudante de 24 anos.

Área do fonseca é recordista de roubos

Dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) apontam que apenas a região central registrou decréscimo de crimes dessa natureza, no comparativo entre o primeiro quadrimestre do ano passado e o deste ano. A área recordista é a da 78ª DP (Fonseca), que concentra os maiores índices: foram 345 carros roubados de janeiro a abril, totalizando uma média de 2,87 por dia.

Segundo o subcomandante do 12º BPM (Niterói), tenente-coronel Fábio Marçal, após serem registrados mais de cem roubos de carros na Zona Norte em abril, o comando “vem conseguindo reduzir os índices”:

 

— Em abril, tivemos um aumento no número de roubos de carro na Zona Norte. Após identificarmos a mancha criminal, fortalecemos o policiamento, principalmente em toda a área da 78ª DP. Em maio, até agora, registramos cerca de 40 crimes dessa natureza na região, o que já indica que o trabalho vem trazendo resultados.

Na Região Oceânica, foram registrados 109 casos neste primeiro quadrimestre contra 81 nos primeiros quatro meses de 2017. Na 79ª DP (Jurujuba), os índices também assustam: no mesmo recorte de comparação, foram anotados 94 casos em 2018, 24 a mais que os 70 oficializados no mesmo período do ano anterior.

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