Notícias | 24 de abril de 2018 | Fonte: Approach Comunicação

Iceberg dos custos

Quando um bloco de gelo se desprende de uma geleira, muitas vezes não se tem ideia de seu tamanho, de sua magnitude, porque a maior parte dessa massa está submersa, longe dos olhos. Com os custos na área da saúde privada é semelhante. O seu efeito parece ter a ver apenas com o que está acima da linha d’água – o aumento das mensalidades. Em 2018, a discussão será em um cenário da mais baixa inflação dos últimos 20 anos. Como explicar que o reajuste deva vir acima da inflação?  Para compreender esse fato, não bastará olhar para a ponta do iceberg.

As operadoras de planos de saúde são as únicas reguladas e fiscalizadas pelo Governo, com processos consolidados e transparentes de prestação de contas. Mesmo assim, 85% dos custos das operadoras não são por elas gerenciáveis. É a imensa massa abaixo da linha d`água do iceberg. A alta proveniente dos serviços médicos é repassada ao consumidor. Para cada R$ 100 recebidos, o setor gasta R$ 99,3. Poucos sabem que, nos últimos dez anos, em termos práticos, o setor só conseguiu se sustentar pelo resultado financeiro das reservas que protegem os riscos.

Embora o crescimento dos gastos da saúde seja uma realidade no mundo todo, o Brasil chama a atenção. A nossa inflação médica está entre as dez mais elevadas em 2016, segundo relatório da consultoria Aon Hewitt. O que pesa nesse resultado? O avanço da tecnologia médica e o aumento da utilização dos serviços médicos. Por exemplo, a quantidade de utilizações aumentou 6,4% de 2015 para 2016 – totalizando 1,4 bilhão de procedimentos (o equivalente a 4 milhões de procedimentos/dia), mesmo tendo ocorrido a perda, no mesmo ano, de 1,5 milhão de consumidores.

Por isso, quando comparada com os índices de inflação, a variação dos gastos com saúde vem aumentando consideravelmente. Entre 2008 e 2016, o IPCA atingiu 65,2%, contra despesas assistenciais médico-hospitalares per capita da ordem de 142,8%, sendo que o reajuste autorizado pela ANS foi de 104,2%. A conta não fecha.

Então, o que pode ser feito para mudar esse quadro de gastos elevados, que impacta o reajuste? Não há uma solução mágica e única que dependa apenas das operadoras. É preciso que toda a cadeia produtiva da saúde busque reduzir e racionalizar custos para dar sustentabilidade ao sistema.

O setor não está parado. Algumas medidas começam a ser testadas. Uma delas é mudar a forma de pagamento dos prestadores de saúde, hoje baseado no modelo de remuneração pela quantidade de procedimentos realizados. O ideal é que se adote o modelo baseado no melhor resultado para o paciente. O disciplinamento da inovação tecnológica também é assunto que deve interessar a toda a sociedade.

As operadoras são apenas a ponta do iceberg. Toda a cadeia de valor da saúde privada deve contribuir para que o acesso da população a uma medicina de qualidade seja assegurado.

Solange Beatriz Palheiro Mendes, presidente da FenaSaúde 

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