Notícias | 14 de dezembro de 2005 | Fonte: Gazeta Mercantil

Fundos crescem com parcerias

Os gestores independentes de recursos financeiros vêm conquistando terreno num mercado brasileiro ainda bastante concentrado. Especializados no desenvolvimento de produtos com estratégias sofisticadas, acabaram aproximando-se dos grandes bancos de varejo e encontraram na parceria uma maneira de driblar a fragilidade da ausência de uma boa rede de vendas. O movimento de distribuição de produtos de terceiros em bancos de rede, que começou timidamente no final da década de 90, hoje está consolidado.

Segundo o sócio da consultoria Quantum, Maxim Wengert, a grande maioria dos bancos de varejo já distribui os fundos mais sofisticados de gestoras independentes e ligadas a bancos de investimento. “Essa parceria foi o que viabilizou o boom de novas assets a partir de 2003”, diz. “Boa parte da captação dessas empresas vem dos bancos.”

Os 35 gestores ligados a bancos de varejo detêm 91,1% dos mais de R$ 700 bilhões do patrimônio do setor. As 144 empresas que não têm vínculo com esses bancos administram 8,9% do total de recursos.

Parceria na distribuição é bom negócio para bancos de rede e pequenos gestores. Rodrigo Xavier, sócio do Banco Pactual responsável pela área de gestão de recursos, acrescenta que a distribuição de produtos de terceiros por grandes bancos de varejo ocorreu por conta da sofisticação do investidor, além da estratégia de diversificação do gestor. “Os bancos chegaram à conclusão de que é bom manter o cliente dentro da instituição e passaram a oferecer os produtos para os quais não têm vocação, como os multimercados”, diz.

A tendência, conta, é que esse movimento – mais restrito às áreas “private” (para pessoa física de alta renda) dos bancos – estenda-se a outras faixas de clientes. Xavier afirma, inclusive, que já há bancos distribuindo produtos de terceiros para clientes candidatos ao “private”. Os fundos do Pactual, por exemplo, estão em todos os bancos distribuidores de produtos de terceiros, locais e com origem estrangeira.

O sócio da consultoria FCE, Gyorgy Varga, afirma que há uma “preferência” dos bancos de varejo por distribuir os produtos de terceiros mais arriscados. São dois os motivos, na sua avaliação. O primeiro é que, como esses fundos são mais arriscados, o banco evitaria atrelar seu nome a um eventual prejuízo. “Por melhor que seja o gestor, não há como garantir o retorno, embora, na média e no longo prazo, esses fundos alcancem a meta de rentabilidade”, diz.

Outro fator, segundo Varga, é que “um bom fundo arriscado precisa de gestores extremamente especializados, estrutura cara para um banco de varejo”. A remuneração de um gestor especializado, aponta o consultor, não condiz com a estrutura de salários do banco.

Ricardo Junqueira, sócio da Ático Asset Management, gestora independente com R$ 60 milhões sob administração, diz que, depois da febre de abertura de gestoras nos últimos anos, a tendência é de profissionalização do mercado. E só sobreviverão, segundo ele, as empresas que contarem com uma estrutura de gestão formada por equipes econômica, de análise de risco e gestores com muitos anos de experiência.

Para ele, os independentes tendem cada vez mais a criar produtos sob medida para atrair investidores sofisticados, além de buscar a especialização com o objetivo de galgar espaço na prateleira de produtos dos grandes bancos.

Lá fora…No mercado mundial, afirma o sócio da consultoria Quantum, Maxim Wengert, há um movimento de separação das áreas de gestão de recursos e serviços financeiros. Um exemplo recente aconteceu com o Citibank , que decidiu vender sua área de gestão de recursos global para a Legg Mason, um dos maiores gestores internacionais. O Citi no País não comenta quais serão os reflexos na operação brasileira, mas uma coisa é certa, o negócio abre espaço para o banco distribuir os melhores produtos do mercado a seus clientes, sem conflitos de interesse.

Se o mercado brasileiro vai por esse caminho, ainda é uma incógnita. Para Wengert, isso pode ocorrer num futuro muito distante. Por enquanto, acredita o consultor, os grande bancos vão manter em casa a gestão de fundos com estratégias mais simples e passivos, como os DI e parte das carteiras de renda fixa. De terceiros, afirma, só os produtos mais sofisticados.

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