Outubro pode reservar uma guinada para os fundos de renda fixa. A perspectiva de que o ciclo de cortes de juros se intensifique, com redução da taxa básica Selic em até 0,5 ponto percentual — recuando para 19% ao ano — pode impulsionar os ganhos dos fundos de renda fixa. Nos últimos meses eles perderam em rentabilidade para os fundos DI (confira o desempenho no quadro ao lado). Essa é a avaliação de boa parte dos analistas do mercado financeiro, que recomendam também a aplicação de parte dos recursos na Bolsa, devido à expectativa de valorização das ações em meio à farta liquidez global e às projeções de expansão da economia brasileira nos próximos meses.
Os fundos de renda fixa devem começar a levar vantagem sobre os DI porque, enquanto os últimos acompanham a oscilação dos juros — para cima ou para baixo — os primeiros têm ganhos maiores quando há perspectiva de queda das taxas.
— O renda fixa começa a superar o DI quando o corte nos juros vai além das expectativas do mercado financeiro. Ou seja, se o Banco Central for mais agressivo na reunião de outubro, o renda fixa tende a trazer ganhos maiores — explica Delano Franco, diretor-presidente da Mellon Global Investments-Brasil.
— E, hoje, os juros futuros ainda indicam um corte de 0,25 ponto na Taxa Selic, embora muitos analistas apostem numa redução de 0,5 ponto. Se essa última hipótese se confirmar, o investidor terá ganhos acima do mercado no renda fixa — completa Marcos Carneiro, gerente de Renda Fixa da Mercatto Gestão de Recursos.
Investidores começam amigrar para renda fixa
Carneiro explica que a divulgação, na última quinta-feira, do relatório trimestral de inflação do Banco Central (BC) aumentou a expectativa, entre os analistas, de um corte de juro maior. No documento, o BC reduziu de 5,8% para 5% ao ano a projeção de inflação para 2005, ou seja, abaixo da meta de 5,1% para este ano.
— Com a expectativa de uma inflação menor, sobra espaço para um corte mais audacioso dos juros em outubro — pondera Carneiro.
Essa também parece ser a avaliação de alguns investidores. Dados da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid) mostram que, ao contrário dos meses anteriores, em que os fundos DI receberam o maior volume de aplicações dos investidores conservadores, nos últimos 30 dias muitos têm optado pelos fundos de renda fixa. No período, enquanto os DI registraram uma captação líquida (isto é, já descontado o Imposto de Renda) de R$ 173 milhões, os de renda fixa atraíram R$ 417 milhões.
— Embora os renda fixa ainda tenham uma rentabilidade inferior aos DI, a expectativa é de que esse ganho aumente a médio prazo. Acredito que a troca vale a pena — diz Carlos Cintra, gestor de Renda Fixa do Banco Prosper.
Renato Ramos, diretor de Renda Fixa do HSBC Asset Management, diz que, no banco, os investidores já começaram o troca-troca. O analista acredita que, apesar da perspectiva de cortes na Selic, como os juros ainda se manterão altos, o mais indicado seria permanecer num fundo DI.
— É uma aplicação com menor risco do que um renda fixa e que ainda dará um ganho alto aos investidores. Não acho que o risco compense a troca. Mas, para quem pensa a muito longo prazo, talvez compense aplicar uma pequena parcela dos recursos em renda fixa e o restante em fundos DI — afirma Ramos.
Analistas: diversificaçãocom investimento em Bolsa
Já Franco, da Mellon, indica a diversificação das aplicações em renda fixa com o investimento em Bolsa:
— Para quem está otimista com as perspectivas reais de crescimento da economia brasileira, a Bolsa deve trazer um retorno elevado, superior ao dos fundos DI e renda fixa a longo prazo.
Essa também é a opinião de Cintra, do Prosper:
— O investidor deveria aproveitar a elevada liquidez internacional e as boas perspectivas para a economia para investir um pouco na Bolsa. Mas é importante sempre pensar em retorno a longo prazo, como em toda aplicação em ações.