Notícias | 30 de novembro de 2005 | Fonte: Valor Econômico

Equívocos travam mercado de seguros para obras de arte

Janes Rocha
Quando se pensa em seguro no Brasil, a primeira coisa que vem à mente é o carro. É natural, afinal este é o seguro mais difundido e vendido no país onde o automóvel é uma paixão – e uma grande necessidade, dependendo de onde se vive.

Mas há um equívoco comum em se comparar o seguro do automóvel com outros bens. O alerta foi feito por Mara Aranha e Guilherme Olivetti, gerentes da área de seguros residenciais da Chubb Seguros, quando questionados a respeito de um caso notório, divulgado pelos jornais semana passada, sobre o roubo do quadro “Preparando o Enterro na Rede”, obra de Cândido Portinari, avaliada em R$ 2,5 milhões.

Nem o proprietário do quadro (cujo nome não foi divulgado), nem o proprietário da galeria Thomas Cohn, onde a obra estava guardada, haviam feito seguro. Procurado pela reportagem do Valor, o dono da galeria Thomas Cohn não respondeu aos e-mails e recados deixados na caixa postal de sua empresa. “Muita gente não faz nem cotação de seguro de obras de arte porque pensa: se o seguro de um carro de luxo custa tão caro, imagine quanto vai custar o do meu quadro”, diz Mara. E completa: “Não tem nada a ver uma coisa com a outra”.

O critério básico para definição do custo (prêmio) do seguro de uma obra de arte é, como em qualquer seguro, o risco de roubo e danos. Enquanto o prêmio em um seguro de carro custa em média 10% do valor do carro (dependendo do veículo e do perfil do motorista), em obras de arte esse percentual cai para 0,8% a 2% da importância segurada.

Por quê essa diferença? Porque os riscos que envolvem uma obra de arte – que geralmente ficam guardadas em casa ou em museus e galerias – são muito distintos dos que envolvem um bem móvel, que circula e muitas vezes é estacionado nas ruas.

Essa é apenas a diferença mais evidente, mas há muitas outras que definem o custo do seguro. Segundo Guilherme Olivetti, a maior preocupação hoje das seguradoras de obras de arte é o risco de incêndio, não o roubo que, na verdade, não é muito frequente – obras de arte são difíceis de “passar para frente”.

Na definição da taxa, a seguradora vai levar em conta se a obra está em uma residência ou em uma galeria, a região onde o imóvel está situado (se mais ou menos sujeito a assaltos), as condições de guarda da obra (sistemas de segurança e alarme) e a parte estrutural e elétrica.

O custo de avaliação da obra é importante e bem diferente do custo de avaliação do automóvel. As seguradoras só aceitam garantir uma obra de arte se o cliente apresentar uma avaliação feita por um profissional especializado – no caso, um marchand.

Segundo Rodolfo Duarte Moreira Filho, gerente do segmento private da Marsh Corretora, os marchands cobram em torno de 1% do valor da avaliação como comissão. Mas tudo é negociável.

Se o cliente apresentar um pacote de bens para avaliação e seguros, as taxas podem cair muito. Porém, nos casos em que a obra custa mais de R$ 2 milhões, o processo será mais burocrático porque envolverá a contratação de resseguro – uma apólice que garante as seguradoras contra riscos de valores superiores à capacidade financeira da companhia.

O gerenciamento dos riscos conta muito para a redução (ou aumento) das taxas, explica Moreira Filho. Por esse motivo, alguns riscos não são cobertos pela apólice de seguro como, por exemplo, danos causados por infiltrações e ataque de cupins, porque são resultado de descuido do segurado.

Moreira não estranhou que o dono do Portinari não tivesse seguro: “Falta cultura de seguro no Brasil, as pessoas sempre acham que a segurança delas é boa, que nunca vai acontecer com elas…”. Por isso, o mercado de seguros de obras de arte no país é mínimo, apenas duas seguradoras operam e o número de apólices não chega a duas dezenas, sendo a maioria para cobertura de jóias e relógios, alguns quadros e tapetes persas, relata o gerente da Marsh Corretora.

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