Notícias | 19 de fevereiro de 2020 | Fonte: UOL l Millene Rios

Enchente em SP: valor de seguro chega a triplicar a vítimas de alagamentos

As águas das enchentes com volumes históricos em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro foram embora, pelo menos por ora, mas os prejuízos ainda estão sendo calculados e podem bater recordes.

Só em São Paulo, as seguradoras tiveram entre segunda e sexta-feira da semana passada de 30% a 50% mais sinistros em relação à semana anterior e alta de até 200% na comparação com o mesmo período do ano passado.

Dentro das oficinas, procurando por mais números, ouvi o alerta: “Pode preparar o bolso, porque o preço das apólices vai explodir. Alguém tem que arcar com esse prejuízo e não vai ser a seguradora”.

O comentário fez certo sentido, mas a experiência de mais de uma década fazendo reportagens sobre seguros me trouxe na hora mais dúvidas do que certezas e resolvi ir buscar as respostas com todas as partes envolvidas.

Encontrei então o caso da Susy. Fazia apenas dois meses que ela rodava com seu SUV compacto tirado novinho da concessionária. Estacionou como de costume numa rua na Zona Oeste de São Paulo, uma das regiões mais castigadas da cidade, e quando voltou ele estava submerso. Acionou o seguro, teve a indenização paga, comprou outro carro idêntico, zero quilômetro e quis fechar novamente o seguro com a mesma empresa. Mesmo carro, mesmo perfil, mesma seguradora.

Mas a conta era outra: de R$ 3.130,57 pagos no final de 2019 pela apólice, o valor subiu para espantosos R$ 8.643,86, um aumento de exatos 176,11%.

“A companhia taxa os valores lá em cima como quem diz, olha eu aceito você, mas só nessas condições, que é uma forma de não negar, mas a pessoa também não conseguir fechar negócio. A saída, nesse caso, foi procurar outras opções para atender a cliente”, conta o corretor de Susy e sócio proprietário da Conceito Corretora de Seguros, Marco Aurélio Ronconi, que tem 28 anos de experiência no mercado.

Todas as seguradoras têm acesso ao histórico dos segurados pelo número do CPF. No Registro Nacional de Sinistros (RNS), as empresas podem consultar uma espécie de score do cliente, mas como ele é cada vez mais raro (hoje 70% dos carros e 98% das motos não têm qualquer tipo de seguro no Brasil) é possível encontrar valores mais razoáveis.

“Normalmente, a concorrente ou seguradora congênere, como chamamos, apresenta um preço melhor do que a companhia que indenizou o cliente”, disse Ronconi. Susy, por exemplo, conseguiu uma nova apólice “pós-enchente” por R$ 3.309,80 em outra empresa.

Para os outros segurados que não se envolveram em nenhum tipo de situação, a renovação até o momento está sendo feita com o mesmo valor ou até menor, no caso do uso do bônus, explica Ronconi, porque as empresas agravam geralmente as apólices de quem teve o sinistro.

“Mas como a maioria dos casos aconteceram no início de fevereiro, só a partir de março saberemos de fato se as tabelas sofrerão algum reajuste para as seguradoras recuperarem o prejuízo desse período”.

Eliane Percino, diretora operacional da Suhai Seguradora, é enfática ao afirmar que as seguradoras não deveriam aumentar os preços das apólices após as enchentes, mesmo com os episódios de estragos nas atuais proporções.

“Historicamente, de janeiro a março temos enchentes, alguns anos com mais sinistros, outros menos, por isso o valor é uma estatística que contempla os eventos que podem acontecer ao longo de 12 meses”. Em outras palavras, o preço desse risco também já está contemplado todos os anos e sendo dividido entre todos os segurados.

Se a coisa apertar para todo mundo, uma das saídas para não ficar desamparado é apelar para novas modalidades, como o seguro exclusivo para Furto e Roubo que promete preços até 80% mais em conta do que a apólice “tradicional” e que também costumam aceitar perfis geralmente rejeitados como motociclistas, motoristas de aplicativo, carros com mais de 10 anos de uso e/ou blindados.

Nesse novo formato, em algumas seguradoras, é possível incluir no contrato a opção Perda Total que amplia a cobertura para colisões causadas por terceiros e os sinistros por desastres naturais, que contemplam as enchentes.

Como gosto de dar exemplos reais, o Rodrigo, dono de um compacto popular 2011, saiu de um valor de seguro “completão” de R$ 1.100 por ano para R$ 602, praticamente a metade do preço, no versão mais enxuta de apólice. Mas esse modelo exclui completamente a indenização em casos de acidentes provocados pelo motorista.

“Uma colisão é possível evitar guiando com prudência, mas o furto e roubo em boa parte dos casos não e o mesmo acontece com as enchentes”, explica Eliane.

Eu já passei pela desesperadora situação de ver meu carro – e tudo que tinha dentro dele – ser tomado pela água e não ter seguro, porque exatamente no início daquele duro ano precisei apertar a torneira e resolvi abrir mão da renovação da apólice.

No fim, perdi o pouco que tinha. É o que prega a famosa lei de Murphy (que leva o sobrenome do seu criador, um ex-engenheiro da Nasa que atribuiu significados matemáticos para as circunstâncias catastróficas da vida), se algo pode dar errado, dará, e no pior momento possível.

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