Notícias | 17 de dezembro de 2003 | Fonte: Valor Econômico

Desastres naturais elevam indenizações

O mercado internacional de seguros e resseguros deve apresentar alguma melhora em 2004, depois de dois anos de prêmios elevados e coberturas restritas para os grandes riscos empresariais, dizem os especialistas. Mas ainda não há motivos para festejar. As condições que levaram aos reajustes de preços praticamente não se alteraram. O volume de indenizações pagas – que significam perdas para as seguradoras e um dos indicadores mais relevantes para a tendência do mercado – até aumentou este ano.

De acordo com um relatório divulgado ontem pela resseguradora internacional Swiss Re, a indústria mundial de seguros pagou cerca de US$ 17 bilhões em indenizações por catástrofes naturais (US$ 15 bilhões) e causadas pelo homem (US$ 2 bilhões) em 2003. É mais que os US$ 13,5 bilhões de 2002, mas bem menos que os US$ 34 bilhões de 2001 – ano dos atentados terroristas a Nova York e Washington.

O crescimento em 2003 foi influenciado principalmente pelas catástrofes naturais. No total, essas catástrofes causaram prejuízos (segurados e não segurados) de US$ 65 bilhões e a morte de 20 mil pessoas, em todo mundo. Embora as perdas seguradas tenham representado menos da metade do registrado em 2001 com os atentados de 11 de setembro, a Swiss Re aponta que há uma tendência crescente de prejuízos com desastres naturais, devido à cada vez maior concentração de populações em regiões urbanas e assentamentos humanos em áreas de risco.

Mas o que provocou a alta dos preços dos seguros e resseguros não foram tanto as catástrofes naturais. Após os ataques terroristas, a indústria de seguros sofreu forte retração, muitas companhias de pequeno porte saíram do mercado e os preços das apólices explodiram, afetando todos os setores, desde a aviação civil (a mais atingida) até plantas industriais e projetos de engenharia.

“Desde então, não houve agravamento do quadro, mas o mercado continua difícil”, comentou Henrique Abreu de Oliveira, representante da Swiss Re no Brasil e coordenador da área de ramos elementares da resseguradora. Segundo Oliveira, mais do que as catástrofes naturais – para as quais o mercado tem reservas suficientes para cobrir -, o grande problema das companhias é recuperar as fortes perdas sofridas com os mercados financeiros (ações e taxas de juros) onde aplicam o dinheiro acumulado com o pagamento dos prêmios pelos segurados. Pressionadas pelas agências de classificação de risco de crédito, estas empresas estão sendo obrigadas a aportar mais capital no negócio para garantir o retorno aos acionistas.

Quem paga por isso? O segurado. “As agências estão exigindo bases de capital mais sólidas. Para isso, eles (os controladores das seguradoras e resseguradoras) precisam aumentar a rentabilidade, o que os torna mais seletivos e caros”, explicou Oliveira.

O que motiva um certo otimismo é que os aumentos exagerados de preços depois dos atentados recapitalizaram várias companhias de seguros que hoje estão com “excesso de capacidade”, lembra Thomaz Cabral de Menezes, principal executivo da filial brasileira do Grupo Marsh McLennan Companies (MMC). Para as empresas brasileiras, que se beneficiam com a quase ausência de catástrofes naturais no país, isso vai resultar em descontos nas renovações de seguros e resseguros no ano que vem, garante o presidente do IRB Brasil Re, Lidio Duarte. “Tivemos um desconto de 20% na renovação do nosso contrato de ‘properties’ que será repassado para as empresas”, disse Duarte, referindo-se ao contrato anual negociado pelo IRB no mercado internacional, que dá cobertura aos riscos industrias das grandes empresas brasileiras. Segundo ele, até nos contratos de aviação – que chegaram a ter reajustes de 300% logo depois dos atentados – hoje é possível encontrar descontos de no máximo 15%, “se a companhia aérea não tiver registrado sinistro”. “Dependendo do setor de atividade, da empresa, da franquia e da experiência (quantidade de acidentes e outros sinistros), na área de properties há descontos de 5% a 15%”, diz Menezes. O maior problema na verdade, diz o executivo da Marsh, são os seguros de Responsabilidade Civil (RC) e de riscos ambientais. Devido aos escândalos envolvendo grandes corporações como a Enron e a WorldCom, as seguradoras e resseguradoras passaram a cobrar reajustes de 20% a 30% e a restringir a aceitação de riscos em RC.

Autor: Janes Rocha

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