Caio Junqueira De Brasília
Crise
Apesar de manobra para ganhar tempo, governo fracassa na tentativa de retirar assinaturas de requerimento
Fracassou ontem a tentativa do Palácio do Planalto de barrar a prorrogação dos trabalhos da CPI dos Correios. A estratégia traçada pelo governo, de retirar o maior número possível de assinaturas do requerimento que adiava o funcionamento da comissão para abril de 2006, não contou com muitas adesões. Na Câmara, apenas três deputados, Lael Varella (PFL-MG), João Hermann Neto (PDT-SP) e Jorge Alberto (PMDB-SE) retiraram seus nomes do documento. Dentre os senadores, nenhum alterou o posicionamento.
Para ser prorrogada, bastava a adesão ao requerimento de um terço dos parlamentares de cada Casa do Congresso: 171 deputados (de 513) e 27 senadores (de 81). Com as três baixas, a oposição, porém, conseguiu manter praticamente o mesmo número constado no documento de anteontem: 218 deputados e 32 senadores.
À tarde, governistas e oposicionistas estavam otimistas em relação à vitória de seus interesses. O líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP), caminhava pelos corredores da Casa à procura de assinaturas. Dizia possuir 70 acima do necessário. Por sua vez, o deputado Maurício Rands (PT-PE), contabilizava 12 retiradas do PP e 3 do PSB e defendia uma espécie de prorrogação parcial da comissão: “Sou a favor da prorrogação, mas desde que identificada por assuntos. Há subcomissões, como as dos fundos de pensão e dos contratos que precisam de mais tempo de trabalho. O que não pode é adiar o trabalho geral com interesses eleitorais.”
Essa foi a segunda tentativa do governo de impedir a continuidade da CPI dos Correios. Anteontem, depois do encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), suspendeu a sessão de leitura do requerimento, sob a alegação de que não havia quórum. Com essa manobra, o governo ganhou tempo para convencer os parlamentares a retirarem as assinaturas, de modo a inviabilizar a prorrogação dos trabalhos. O requerimento acabou sendo lido na manhã de ontem, mas o governo ainda poderia manobrar até a meia-noite para retirar assinaturas, já que o requerimento só teria validade com a publicação no Diário Legislativo de hoje.
Apesar de considerar que a prorrogação da CPI atrapalha a votação de projetos, o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), disse que a função investigativa é uma das atribuições dos deputados. “O adiamento pode até atrapalhar, mas temos que cumprir nossas atribuições e nos adaptar ao funcionamento das comissões e votar as matérias necessárias.”