Notícias | 17 de maio de 2004 | Fonte: Gazeta Mercantil

Conta-investimento traz novo desafio

Primeiro efeito da medida, que permitirá a livre transferência de recursos entre aplicações, será o acirramento da concorrência entre gestores e a disputa com os CDBs. O s fundos de investimento, que hoje movimentam patrimônio superior a R$ 530 bilhões, encontram-se frente a um novo desafio: a entrada em operação da conta-investimento. Em pouco mais de dois meses os investidores poderão, por meio do novo instrumento, transferir livremente os recursos de uma aplicação a outra sem a inibição causada pela Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). Como primeiro efeito da novidade, a concorrência deste segmento, que não é pequena, ficará ainda mais acirrada.

As gestoras de recursos se preparam para enfrentar a novidade apostando na comunicação com o cliente e na boa performance de seus fundos. A partir de 2 de agosto, além da competição com os fundos de outros gestores de recursos, o setor terá de enfrentar o apelo de um ativo que andava esquecido, o Certificado de Depósito Bancário (CDB).

Paulo Werneck, superintendente executivo da ABN Amro Asset Management, acredita que um dos fortes concorrentes dos fundos de investimento serão os CDBs, justamente os que mais perderam com a criação da CPMF e que a partir de agora devem voltar a atrair os investidores.

Em defesa dos fundos, o presidente da BB DTVM, a gestora de recursos do Banco do Brasil, Nelson Rocha Augusto, lembra que, por seu caráter condominial, o fundo tem condições de obter taxas melhores nas aplicações em CDB do que conseguiria um investidor individualmente, especialmente no segmento pessoa física. “Sozinho, o investidor não tem o suporte técnico necessário para fazer a melhor escolha entre os vários ativos e papéis do mercado”, afirma. Por isso, ele não acredita em uma mudança significativa na indústria de fundos com a chegada da conta.

Os bancos de atacado, por sua vez, consideram a novidade um fator decisivo para o crescimento da área de gestão de recursos. “A conta-investimento é bem-vinda, pois temos fundos muito bem posicionados no ranking de rentabilidade e, com a mobilidade maior, será muito positivo para nossa captação”, diz Antonio Navatta Cabrera, gerente administrativo da Votorantim Asset Management.

O diretor da área de fundos do banco WestLB, Mário Carvalho Filho, aposta nas empresas de distribuição para crescer com a conta-investimento. Segundo o diretor, estes consultores movimentam cerca de R$ 5 bilhões, direcionados para entre 20 e 30 bancos diferentes – potencial que poderá ser ampliado com a operação da conta-investimento.

O diretor-superintendente da Bradesco Asset Management (Bram), Robert John van Dijk, observa que a preocupação principal do investidor deve ser a de olhar suas aplicações sob a perspectiva do longo prazo, evitando mudanças intempestivas que podem resultar em prejuízo. “Os fundos são uma importante alternativa ao investidor que, ao canalizar os recursos para um especialista, obtém um ganho de eficiência”, diz.

A avaliação do superintendente de fundos de investimentos do banco Itaú, Moacyr Castanho, é de que a tendência dos clientes da área de varejo é de permanecer no próprio banco, aproveitando a mobilidade da conta-investimento para maximizar a alocação dos recursos dentro da melhor relação risco/retorno.

Volatilidade

A volatilidade apresentada pelo mercado financeiro nas últimas semanas e que afetou o desempenho dos fundos é vista com relativa tranqüilidade pelos gestores. A avaliação dos especialistas é a de que o setor de fundos tem hoje consistência suficiente para enfrentar períodos de turbulência.

O economista-chefe do Itaú, José Mauro Delela, observa que, “mais do que uma deterioração do cenário, temos uma mudança do patamar de volatilidade”, o que assusta o investidor. Mas nada que se assemelhe à crise de 2002, quando a indústria de fundos perdeu R$ 63 bilhões. Para o diretor da Bram, o cenário que se abre apresenta uma série de pontos de interrogação, entre eles a questão da China, o preço do petróleo e a perspectiva de elevação dos juros pelo banco central dos Estados Unidos.

Gazeta Mercantil – continuação

“É importante ressaltar que os fundamentos macroeconômicos do País estão bem. No entanto, falta o governo acertar alguns pontos, como a relação dívida/PIB (Produto Interno Bruto) e a questão dos marcos regulatórios”, diz Van Dijk, da Bram.

O economista-chefe da Unibanco Asset Management (UAM), Alexandre Mathias, também se apóia nos bons fundamentos da economia brasileira para sustentar sua confiança na capacidade do mercado atravessar sem grandes traumas a atual turbulência. Mas não deixa de ressaltar a importância de se resolver questões como os marcos regulatórios para manter a atratividade do capital externo de longo prazo. “Não basta só baixar os juros, tem que ter regras claras para os investidores”, afirma.

Mas ele não vê um cenário de pânico nesta volatilidade. “Trata-se de um movimento de realocação de portfólio, mas não chega a ser uma crise violenta”, observa. Mathias aposta na trajetória de retomada da economia brasileira que permitirá ao País atravessar esta turbulência em melhores condições que nas crises passadas (da Ásia, Rússia, México), sem sofrer tanto como naquela época.

Rentabilidade

O nervosismo predominante no final de abril afetou o desempenho dos principais setores da indústria de fundos, cuja rentabilidade média nos quatro primeiros meses do ano ficou abaixo do referencial mais utilizado pelo mercado, o CDI, que subiu 4,98%. Segundo levantamento da InvestNews, os fundos DI foram os mais rentáveis no período, ficando bem próximos do referencial do mercado, com ganho de 4,40%. Os fundos de renda fixa (classificados pela InvestNews como Não Referenciados), obtiveram valorização de 4,37%. Os fundos mistos ficaram logo atrás: os Genéricos Agressivos (que podem realizar operações com alavancagem) ganharam 4,01% e os Genéricos (multimercados sem alavancagem) lucraram 3,43%. Os fundos de previdência apresentaram rentabilidade média de 2,57%, seguidos pelos fundos de privatização formado por ações da Petrobras, com ganho de 2,04%.

Resultado negativo

Apenas dois segmentos dentre os principais tipos de fundos do mercado situaram-se no campo negativo. As carteiras de ações perderam 6,45% em média, um desempenho até melhor do que o apresentado pelo Ibovespa, o indicador da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), que caiu 11,82% no primeiro quadrimestre do ano.

Em pior situação ficaram os fundos de privatização constituídos por ações da Vale do Rio Doce, que perderam 20,17%.

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