Notícias | 29 de novembro de 2005 | Fonte: O Globo

Comando de CPI intervém em sub-relatoria

Adriana Vasconcelos e Gerson Camarotti

BRASÍLIA. O presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), e o relator, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), decidiram intervir na sub-relatoria que analisa denúncias de corrupção no Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), comandada pelo deputado Carlos William (PTC-MG), um dos principais aliados do ex-governador Anthony Garotinho (PMDB-RJ).

Na última quarta-feira, os dois chamaram William para uma conversa delicada sobre boatos de que alguns requerimentos de quebra de sigilo apresentados por ele estariam sendo usados para achacar corretoras. A partir de agora, nenhum requerimento será votado no plenário da CPI sem o aval prévio de Delcídio ou Serraglio.

— Não temos nada de concreto que nos convença de que esses boatos são procedentes. Mas, por cautela, todos os requerimentos agora terão de passar necessariamente pelo crivo do relator ou do presidente da CPI — confirmou Serraglio.

Relator admitiu ter atendido a aliado de Garotinho

Presenciada pelos deputados Eduardo Paes (PSDB-RJ), Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) e Gustavo Fruet (PSDB-PR), a conversa entre William e o presidente e o relator da CPI foi bastante áspera. William rebateu indignado às suspeitas de que poderia estar usando requerimentos de quebra de sigilo para chantagear alguma corretora.

Todos os presentes à reunião admitiram que já haviam sido abordados por jornalistas e parlamentares interessados em confirmar os rumores. Pressionado, William admitiu, segundo três testemunhas da conversa ouvidas pelo GLOBO, que havia enviado alguns pedidos do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), outro aliado de Garotinho, para convocar representantes de algumas corretoras.

William foi duramente criticado pelos colegas de CPI, que manifestaram a preocupação de que um boato como esse viesse a comprometer todo o trabalho de investigação da comissão e ainda pôr todos os seus integrantes sob suspeição. Procurado pelo GLOBO, William confirmou a reunião com os integrantes da CPI, mas reagiu às suspeitas de que estaria tentando obter vantagens de corretoras.

Possibilidade de intervenção desagrada a William

William afirmou que partiu dele a iniciativa de procurar a cúpula da CPI. Ele reagiu à possibilidade de uma intervenção na sub-relatoria que controla.

— Não aceito intervenção. Eles não podem fazer um monitoramento do meu trabalho. Como parlamentar, tenho direito de apresentar requerimento. A iniciativa da conversa foi minha para esclarecer os rumores. Acho que não é leal e correto esse tipo de assunto ter vazado para a imprensa. Eu neguei categoricamente qualquer suspeita sobre a minha atuação. Eles me perguntaram por que eu apresentei requerimentos sobre quebra de sigilo de corretoras se eu sou sub-relator do IRB. Como integrante da CPI, eu tenho direito — disse William.

Segundo Willian, dos 84 requerimentos com pedidos de quebra de sigilo de corretoras, ele foi responsável por 12. Ele explicou que, desses, oito são embasados num relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) e outros quatro foram feitos com base em informações de parlamentares. Ele se negou a informar o nome desses parlamentares, mas disse que entre eles não está o deputado Eduardo Cunha.

— Esses requerimentos são de minha autoria. Acho que houve alguma confusão. O que falei do deputado Eduardo Cunha era que ele queria saber o motivo de um requerimento de quebra do fundo de pensão do Cedae — contou.

Deputado nega ter feito qualquer pedido

Procurado pelo GLOBO, o deputado Eduardo Cunha negou que tenha feito qualquer pedido de requerimento para o colega Carlos William.

— Não é verdade. Carlos William é meu amigo. Mas não pedi para fazer requerimento algum. Ele já negou isso. Houve alguma confusão — disse Cunha.

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