Notícias | 25 de maio de 2004 | Fonte: Jornal do Commercio

Cautela prevalece nos fundos

O Tesouro Nacional, a exemplo do que fez anteriormente com as LFTs para reduzir o aumento do deságio dos papéis, realizou na semana passada dois leilões de compra e venda de Letras do Tesouro Nacional (LTN, papéis prefixados). O objetivo também seria impedir um avanço maior das taxas de juros desses papéis. É exatamente neste ponto que os Fundos Curto Prazo saem ganhando. Só que não é bem assim que pensam todos os investidores. O diretor de gestão do Santos Asset Management, Raffi Dokuzian, reforça o fundo DI como principal produto para quem não quer arriscar na hora de investir. “Além disso, é o investimento ideal para aqueles que não têm muitos recursos para investir, para poderem preservar seu patrimônio”, explicou.

Já os investidores mais moderados escolhem, normalmente, os fundos de renda fixa ou multimercados. A baixa rentabilidade dos DI não agrada a esse tipo de investidor. Outra opção são os de renda variável, de carteira livre.

” Investidores que procuram alta rentabilidade em curto prazo devem buscar fundos como os multimercados com alavancagem ou os de renda variável com derivativos. Esses dois tipos de fundos apresentam alta volatilidade, mas também podem representar grandes ganhos ao investidor ” comentou o assessor de fundos da Souza Barros.

Para Souza Costa, é possível compatibilizar as possibilidades financeiras do investidor com o seu perfil. Mas ressalta que, quanto maior for o volume de recursos a ser aplicado, maior é a gama de possibilidades de investimentos.

A decepção com a rentabilidade e a segurança dos fundos de Renda Fixa predomina no mercado. Parte dos aplicadores não descarta resgates ou mudanças de aplicação. Os gestores têm procurado buscar as oportunidades rentáveis de aplicação para, caso não apresentem lucros, ao menos obtenham resultados que preservem o patrimônio.

” A volatilidade do mercado atingiu até os melhores fundos. Mas depois do término desta turbulência um bom gestor será capaz de recuperar parte das perdas. O ideal é não mexer na carteira caso o fundo seja de longo prazo” explicou Marcelo Xandó, gestor de fundos de investimentos do BCSul Verax, gestora de recursos do Banco Cruzeiro do Sul.

Os fundos que atualmente estão apresentando resultados positivos contam com gestores que anteciparam este cenário ou estão sabendo aproveitar as melhores oportunidades que estão surgindo, sempre com posicionamentos de curto prazo.

“Muitos dos fundos que administramos estão com rentabilidade acima da média do segmento porque antecipamos esta turbulência que surgiu e adotamos uma postura cautelosa. Nossa indicação aos clientes no momento é que apliquem em fundos multimercados, que permitem maior probabilidades de investimentos e abrangência de ativos ” afirmou o superintendente do Santander Asset Management, Marcio Appel.

Previdência cresce, apesar da instabilidade

Os planos de previdência privada aberta estão entre as aplicações financeiras de crescente procura na indústria de fundos de investimento. Dada a constatação de que os benefícios oriundos da previdência oficial serão insuficientes para manter o padrão de vida atual dos trabalhadores ou por conta incentivo de gerentes de relacionamento de bancos, obrigados a cumprir cotas de vendas de planos de benefícios, os fundos de previdência listados pela Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid) começam a se destacar.

Hoje, os fundos de previdência têm um patrimônio líquido (PL) de R$ 26,1 bilhões, representando praticamente 5% do total de PL sob o controle da indústria de asset management, de R$ 534,5 bilhões. Em dias nebulosos para os mercados, a maioria dos fundos de previdência mantém-se no terreno positivo, descolando-se do mau desempenho apresentado por algumas categorias, como os fundos de ações.

E, ao contrário de outras modalidades, os planos de previdência permanecem com a captação positiva, somando R$ 3,262 bilhões no ano ou R$ 10 bilhões nos últimos 360 dias encerrados na sexta-feira retrasada. Só para se ter uma idéia, vale lembra que os fundos de ações perderam R$ 1,5 bilhão ou R$ 2,4 bilhões, nos respectivos períodos.

? A opção por plano de previdência é planejada e seu signatário pretende de fato constituir poupança de longo prazo? explica Hélio França, professor de estratégia financeira do Ibmec.

A expansão deve-se ao fato de os investidores de previdência terem tradição de aplicar em diversos ativos e escolher os planos com o objetivo específico de custear as despesas quando da inatividade, acrescenta França.

Este tipo de investidor não é exclusivo de previdência, mas tem outras aplicações financeiras. Ele reconhece que a dinâmica da previdência é outra das demais aplicações e seu foco é de longo prazo. Hoje, há dois planos que concentram as atenções dos investidores. O PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre) tem como principal atrativo permitir a dedução da base de cálculo do Imposto de Renda de pessoa física em até 12%. O VGBL não permite a dedução e é indicado para quem é isento ou declara no modelo simplificado. O PGBL teve crescimento de 23,5% no primeiro trimestre do ano.

Prepare-se para a conta-investimento a partir de agosto

A novidade na indústria de fundos deste ano é a conta-investimento, que começará a partir de agosto e pretende atender a uma reinvindicação antiga dos investidores: isentar da cobrança de CPMF movimentações financeiras de uma aplicação para outra.

” Com a conta-investimento, o investidor ganha muita mobilidade, tanto de gestor quanto de fundo. A grande diferenciação vai ser o relacionamento do cliente com o banco. Vai contar a assessoria para os investimentos ” diz Sinara Figueiredo, superintendente de produtos de investimento do BankBoston.

Para o superintendente de fundos de investimento do Banco Itau, Moacyr Castanho, o investidor poderá aproveitar a mudança de cenário para ganhar mais em diferentes aplicações. “Em cenário tranquilo, pode aproveitar determinado fundo, se o cenário piorar, pode mudar. Mas o cliente de varejo teria que acompanhar de perto essas movimentações”, diz Castanho.

Gabino Vieira, diretor da Allocation Asset Management, alerta para outra possível mudança também significativa para a indústria de fundos: a limitação de operações em overnight (negócios de um dia), em estudo na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). “Querem restringir as operações de fundos em overnight a até 10% do total da carteira. Em momentos de crise não poderei mais passar tudo no overnight. Isso engessa a carteira”, diz Gabino Vieira.

Marcação a mercado mudou comportamento

A marcação a mercado dos fundos de investimento ” iniciada em maio de 2002 ” mudou o modo de pensar e de agir de investidores e gestores. Mais atentos à volatilidade dos ativos, os investidores têm reagido rapidamente a perdas em cotas de fundos, sobretudo os considerados mais conservadores. “Com certeza, o comportamento do investidor mudou a partir da marcação a mercado. Passou a entender que todos os ativos são voláteis”, diz a superintendente de produtos de investimento do BankBoston, Sinara Figueiredo.

Para o diretor da Allocation Asset Management, Gabino Vieira, os investidores ficaram mais atentos após a marcação a mercado. ?Qualquer sacudida nas LFTs gera um movimento rápido dos investidores, uma reação em cadeia que antes não se via. Eles têm atenção maior, compram papéis mais curtos. Antes as LFTs eram tidas como de risco zero. Eram comparados à caderneta de poupança?, diz Vieira.

Para clarear ao investidor quais os fundos menos sujeitos a oscilações, criou-se uma nova categoria de fundo, observa o superintendente de fundos de investimento do Banco Itau, Moacyr Castanho: a dos fundos de curto prazo. “Houve a criação de uma nova família de fundos, para clientes mais conservadores. Tem menor oscilação, menor rentabilidade e maior estabilidade na carteira”, diz.

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