Notícias | 6 de abril de 2020 | Fonte: Estadão l Antonio Penteado Mendonça

Briga de cachorro grande

O mundo está em guerra. Guerra brutal, cruel, devastadora e capaz de matar milhares de pessoas nos países infectados pelo coronavírus. Quem vai matar é o vírus, mas as razões das mortes irão variar de país para país, em função das ações desencadeadas pelos respectivos governos para fazer frente à pandemia.

O surto começou na China e se espalhou pelo mundo numa rapidez impressionante, atingindo mais de cem países em poucos meses. Neste momento, mais de 50 mil pessoas já morreram e o número de infectados pelo Covid-19 já ultrapassa a casa do milhão. Logo depois da internacionalização da pandemia, a Itália foi a bola da vez, servindo de exemplo para demonstrar os resultados da falta de ação do governo e do descaso da população. As mortes na Itália continuam em patamares muito altos, mas, de repente, a Espanha, seguida da França, começaram a se aproximar da realidade italiana, apesar de tomarem medidas para evitar uma situação tão crítica quanto a lá verificada.

E o quadro, logo depois, se complicou muito, quando os Estados Unidos se tornaram os candidatos a epicentro da pandemia. O presidente do país demorou para perceber a gravidade da situação e só reagiu quando Nova York se transformou em terra arrasada, com o sistema de saúde em colapso e milhares de pessoas morrendo rapidamente.

As primeiras projeções feitas pelos cientistas americanos mostraram que, se a política do presidente da República não fosse radicalmente modificada, o país poderia ter mais de um milhão de mortos. Com a mudança de curso, as estimativas se situam próximas de duzentos mil óbitos.

No Brasil, nós temos um quadro paradoxal. De um lado, o ministro da Saúde, apoiado por governadores, prefeitos, deputados, senadores e ministros do Supremo Tribunal Federal, defendendo o isolamento da população para reduzir a velocidade de propagação do vírus e, de outro, o presidente da República, num discurso que vai contra tudo o que o mundo diz e está fazendo para enfrentar a pandemia, diminuindo a seriedade da momento.

Na prática, as ações para combater o vírus vão sendo implementadas, mas num ritmo abaixo do que seria o mínimo razoável para evitar que milhares de pessoas morram.

O País não está aparelhado para a quantidade de casos que devem estourar nas próximas semanas. É falta de realismo imaginar que a rede hospitalar tem capacidade para atender os potenciais doentes que fatalmente serão contaminados pela Covid-19. Esta certeza vale tanto para São Paulo, que é o Estado mais bem aparelhado, como para os demais Estados da Federação, independentemente do discurso que os políticos de plantão queiram fazer.

Como se não bastasse, o Brasil está encontrando enormes dificuldades para comprar os insumos e equipamentos indispensáveis para combater a epidemia. Dentro do conceito de que guerra é guerra, os EUA entraram em cena descarregando sua artilharia pesada e, num único movimento, enviaram 23 aviões cargueiros de grande porte para transportarem da China para o seu território tudo o que puderam comprar para minimizar os estragos da pandemia. O resultado foi o cancelamento de compras realizadas pelo Brasil e outros países, que agora estão sem os insumos que davam como certos para atender pelo menos parte das necessidades para o enfrentamento da Covid-19 em seus territórios.

Daqui pra frente, esse quadro deve se agravar. Cada um vai pensar em si e nenhum governante vai abrir mão de, em primeiro lugar, proteger suas respectivas populações, tanto faz se às custas de milhares de outras pessoas, em outros países, que ficarão sem o essencial para minimamente fazer frente ao vírus. Se no campo do combate à doença estamos em situação frágil, no campo do avanço da pandemia estamos mais fragilizados ainda. As periferias das grandes cidades oferecem um cenário perfeito para o vírus se propagar rapidamente, da mesma forma que a falta de saneamento e assistência médica para mais de 50% da população amplia as condições de contágio e propagação da Covid-19. A hora é de solidariedade e ultrapassa os interesses setoriais. Ou o Brasil se une neste momento dramático ou o coronavírus vai causar estragos capazes de comprometer nosso crescimento por muitos anos.

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