Notícias | 6 de agosto de 2003 | Fonte: Luiz Roberto Castiglione - Castiglione Bussiness

Automóvel – O ranking de quem menos perde

1-INTRODUÇÃO:
Estamos acostumados a nos deparar com diversos rankings e ratings do Mercado Segurador, onde o volume de vendas é utilizado como um dos balizadores de desempenho das empresas, inclusive existem várias entidades que concedem premiações diversas adotando esse conceito como diferencial de mercado.
Se bem lembro o critério de volume de vendas ou produção já vem sendo utilizado há anos, razão pela qual é mantido. Entretanto, venda sem rentabilidade não significa muita coisa, há não ser a necessidade de se formar uma carteira de clientes para explorar outros produtos rentáveis.
Evidentemente, uma empresa seguradora necessita de massa crítica para viabilizar um produto que atinja o grande público consumidor. O problema acontece quando essa massa passa a ser realmente crítica para os resultados da empresa, fazendo com que, ao final, o acionista tenha que socorrer com novos aportes de capital.
O mercado de uma forma em geral continua bastante agressivo em determinadas modalidades, onde o Automóvel se mantém como melhor exemplo de concorrência predatória, tanto pelas seguradoras como, por conseqüência, pelos corretores de seguros.
O consumidor, conhecendo essa batalha, tenta se beneficiar através do menor preço ou em função da necessidade da manutenção de seu fluxo de recursos extraordinários via sistema bancário. Mal sabe ele que nem sempre o mais barato será aquele que lhe dará melhor amparo no momento do sinistro (atendimento, liquidação e etc).
Em função dos pontos acima elaborei um ranking, a meu ver mais realista, onde as empresas são analisadas sob dois pontos de vista: (a) o de melhor margem de contribuição; (b) o de menor prejuízo industrial. Desta forma pode-se ter uma idéia mais clara da competência técnica de cada empresa, além de se conhecer o impacto do binômio venda x rentabilidade.
MERCADO SEGURADOR BRASILEIRO
AUTOMÓVEL – O RANKING DE QUEM MENOS PERDE
Para tal, é necessário estabelecer alguns conceitos importantes:
– Margem de Contribuição:
É o resultado após a dedução dos sinistros retidos, custos de comercialização, impostos diretos e das outras receitas / despesas operacionais, o qual deverá ser suficiente para fazer frente aos custos fixos, gerando com isso Equilíbrio ou Lucro Industrial (antes do Resultado Financeiro).
Vale ressaltar que as outras despesas / receitas operacionais não foram computadas devido a não publicação das mesmas no sistema SES da SUSEP para a modalidade de Automóveis. Por isso o impacto das mesmas foi considerado nulo. É importante lembrar que nesse conjunto estão classificadas as comissões de representações e plataformas.
Prêmios Ganhos
(-) Sinistros Retidos
(-) Custos de Comercialização
(-) Impostos Diretos
(-) Outras Receitas / Despesas Operacionais
(=) Margem de Contribuição
– Resultado Industrial:
É o resultado líquido da operação de seguros. É à margem de contribuição menos os custos fixos ou as chamadas despesas administrativas.
– Resultado Financeiro:
Aqui deveriam ser considerados os juros decorrentes de fracionamento de prêmios, da geração do fluxo de caixa (na grande maioria negativa) e das provisões técnicas. Evidentemente, já deduzida a remuneração do capital de giro dos acionistas. Como não é possível sua determinação por produto, foi desconsiderada para a análise. Entretanto, a grande maioria das empresas necessita dessa parcela para a geração de resultados operacionais favoráveis na modalidade em estudo.
– Em sendo uma análise pontual e não móvel, apesar de considerar três semestres, podemos ter algumas distorções, as quais serão mencionadas no decorrer do estudo;
– É importante registrar que as situações que serão colocadas não exprimem um cenário de eventual dificuldade por parte das seguradoras em saldar seus compromissos. Algumas utilizam a carteira como fonte de geração de outros negócios (seguros ou produtos financeiros). Todavia, existem algumas, devido ao alto grau de dependência, que deveriam procurar meios de equilibrar a situação econômica e financeira da modalidade. Qualquer distúrbio provocará um imenso desconforto perante os acionistas;
– Por fim é importante chamar a atenção aos costumeiros premiadores e elaboradores de ratings, que nem sempre volume de vendas significa desempenhos consistentes para concessão de menções honrosas. Num mercado onde fundo financeiro (VGBL) é considerado como produto de seguro, agregar serviços que nada tem haver com a modalidade ou subprodutos como novos produtos é bastante complicado considerar desempenhos tendo como base volume de vendas.
– O RANKING DE QUEM MENOS PERDE:
Para a elaboração desse estudo foram utilizados os dados do sistema SES da SUSEP, detalhados em três semestres (I e II semestres de 2002 e I Semestre de 2003), permitindo visualizar o comportamento de cada grupo ou empresa seguradora.
Para a aferição do Resultado Industrial, utilizou-se, para cada período, a relação existente entre Custos Administrativos e Prêmios Ganhos do total de cada grupo ou empresa seguradora. Critério de Custeio Direto – Margem de Contribuição. A relação temporal, apesar dos fundos financeiros, se demonstrou bastante consistente. O Seguro Saúde não foi computado na relação supracitada.
O mercado global assim se apresentou:
MERCADO TOTAL – Valores em R$ milhões e % Prêmios Ganhos
============I SEM-01 == II SEM-02 == I SEM-03 == 03/02
Prêmios Emitidos – R$ 3.974 – 4.215 – 4.299 – 8,2%
Prêmios Ganhos – R$3.894 – 4.040- 4.161- 6,8%
Prêmios Ganhos – 100,0% – 100,0% – 100,0%
Sinistralidade Retida – 71,2%- 70,9%- 71,4%
Margem Técnica – 28,8% – 29,1% – 28,6%
Comercialização – 19,7% – 19,3% – 19,2%
Impostos Diretos – 3,0% – 3,0% – 3,0%
Margem de Contribuição – 6,1% – 6,8% – 6,4%
Custos Administrativos- 18,6% – 18,8% – 18,6%
Resultado Industrial – (-) 12,5% – (-) 12,0% – (-) 12,2%
Grau de Dependência – 61,2% – 61,7% – 59,7%
Nível de Recuperação – 11,2% – 11,4% – 11,6%
Inflação Média – 03/02 30,58%
Fonte: SES – SUSEP
SEGURADORAS BANCÁRIAS – Valores em R$ milhões e % Prêmios Ganhos
============I SEM-01 == II SEM-02 == I SEM-03 == 03/02
Prêmios Emitidos – R$- 1.672 – 1.868 – 1.928 – 15,3%
Prêmios Ganhos – R$ – 1.659 – 1.737 – 1.838 – 10,8%
Prêmios Ganhos – 100,0% – 100,0% – 100,0%
Sinistralidade Retida – 72,9% – 71,9% – 74,6%
Margem Técnica – 27,1% – 28,1% – 25,4%
Comercialização – 17,3% – 17,4% – 17,2%
Impostos Diretos – 3,0% – 3,0% – 3,0%
Margem de Contribuição – 6,8% – 7,7% – 5,1%
Custos Administrativos – 18,3% – 18,9% – 17,3%
Resultado Industrial – (-) 11,5% – (-) 11,2% – (-) 12,2%
Grau de Dependência – 54,1% – 55,0% – 51,7%
Participação no Volume Vendas – 42,1% – 44,3% – 44,8%
Nível de Recuperação – 12,5% – 11,2% – 10,8%
Inflação Média – 03/02 30,58%
Fonte: SES – SUSEP
SEGURADORAS NÃO BANCÁRIAS – Valores em R$ milhões e % Prêmios Ganhos
============I SEM-01 == II SEM-02 == I SEM-03 == 03/02
Prêmios Emitidos – R$ – 2.302 – 2.346 – 2.372 – 3,0%
Prêmios Ganhos – R$ – 2.235 – 2.303 – 2.323 – 3,9%
Prêmios Ganhos – 100,0% – 100,0% – 100,0%
Sinistralidade Retida – 70,0% – 70,2% – 68,8%
Margem Técnica – 30,0% – 29,8% – 31,2%
Comercialização – 21,5% – 20,8% – 20,7%
Impostos Diretos – 3,0% – 3,0% – 3,0%
Margem de Contribuição – 5,5% – 6,1% – 7,5%
Custos Administrativos – 18,8% – 18,6% – 19,7%
Resultado Industrial – (-) 13,3% – (-) 12,6% – (-) 12,2%
Grau de Dependência – 68,0% – 68,2% – 68,3%
Participação no Volume Vendas – 57,9% – 55,7% – 55,2%
Nível de Recuperação – 10,2% – 11,5% – 12,3%
Inflação Média – 03/02 – 30,58%
Fonte: SES – SUSEP
Dos demonstrativos acima vale destacar:
– Apesar das seguradoras bancárias praticarem uma comercialização menor do que as não bancárias, a sinistralidade é maior, consumindo a vantagem da comercialização. No I Semestre-03 observamos um descasamento dos custos administrativos, onde o das seguradoras bancárias foi inferior. Todavia, o aumento da sinistralidade anulou o ganho de escala, fazendo com que ambas encerrassem com perdas idênticas e equivalentes a 12,2% dos prêmios ganhos;
– Evidentemente, o poder de fogo das seguradoras bancárias é muito maior do que o das não bancárias. Aqui temos influências fora do conceito de underwrite, fazendo com que as não bancárias se obriguem, por muitas vezes, a tomar atitudes difíceis que, dependendo das circunstancias, prejudicam o atendimento aos segurados e a relação com os corretores de seguros. É muito complicado e deveria ser mais discutido.
RANKING POR MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO – % PRÊMIOS GANHOS
============I SEM-01 == II SEM-02 == I SEM-03 == 03/02
Marítima Seguros – 22,3% – 24,1% – 22,1%
Porto Seguro – 15,0% – 19,4% – 15,0%
Brasil Veículos – 16,7% – 16,5% – 13,9%
HSBC Seguros – 13,6% – 13,1% – 10,9%
Itaú Seguros – 7,4% – 9,9% – 7,4%
Média do Mercado – 6,1% – 6,8% – 6,4%
Unibanco Seguros – 6,1% – 6,2% – 5,9%
Vera Cruz Seguradora – 2,7% – 0,1% – 3,7%
Tókio Marine – 3,2% – 5,8% – 3,7%
Alfa Seguradora -2,5% – 2,0% – 3,6%
Real Seguros – 4,2% – 3,5% – 1,7%
Bradesco Seguros – 4,1% – 5,7% – 1,5%
Yasuda Seguros – 2,3% – 6,6% – 1,4%
AGF Brasil Seguros – 2,9% – 7,2% – 0,4%
Royal & Sunalliance Seguros – 1,4% – 1,0% – 2,6%
Hannover Seguros – 0,4% – 1,6% – 3,8%
Minas Brasil – 6,3% – 5,7% – 5,2%
Generali Cia Nacional de Seguros – 4,4% – 7,6% – 8,4%
Confiança Seguros – 5,4% – 17,9% – 10,0%
Mitsui – 4,4% – 5,6% – 13,8%
Phênix Seguradora – 11,1% – 7,4% – 17,2%
Fora de Padrão
Axa Seguros – 10,5% 19,8% – 26,8%
Liberty Paulista Seguros – 7,2% – 9,8% – 10,0%
Sul América Seguros – 1,4% – 7,2% – 6,7%
Fonte: SUSEP – SES
Do demonstrativo acima ressalto que fora de padrão significa alterações substanciais praticadas pelas seguradoras relacionadas – run off – onde o resultado se deu no I semestre-03.
Para uma melhor classificação devemos esperar os próximos números. Por enquanto serão consideras empresas em fase de recuperação.
Aqui temos, acima da média do mercado, cinco seguradoras, encabeçadas pela Marítima Seguros.
RANKING POR RENTABILIDADE INDUSTRIAL – % PRÊMIOS GANHOS
============I SEM-01 == II SEM-02 == I SEM-03 == 03/02
Brasil Veículos -6,1% – 5,9% – 2,9%
Marítima Seguros – 2,4% – 2,5% – 1,4%
HSBC Seguros – 5,0% – 5,0% – 4,9%
Porto Seguro – 4,6% – 0,7% – 6,1%
Unibanco Seguros – 13,4% – 13,0% – 12,1%
Vera Cruz Seguros – 13,3% – 16,1% – 12,1%
Média do Mercado (-) 12,5% – (-) 12,0% – (-) 12,2%
Itaú Seguros – 11,8% – 9,6% – 13,3%
Real Seguros – 10,6% – 13,3% – 14,2%
Alfa Seguradora – 19,0% – 17,3% – 14,3%
Yasuda Seguros – 15,0% – 8,4% – 14,5%
Tókio – 21,6% – 12,5% – 15,9%
Bradesco Seguros – 17,0% – 16,5% – 16,5%
Hannover Seguros – 17,0% – 16,8% – 19,1%
Confiança Seguros – 17,4%- 30,4% – 22,1%
AGF Seguros – 25,1% – 15,1% – 22,9%
Generali Cia Nacional de Seguros – 22,1% – 26,4% – 24,6%
Minas Brasil – 12,7% – 13,7% – 27,1%
Mitsui – 17,5% – 5,7% – 27,7%
Royal & Sunalliance – 24,1% – 23,0% – 28,5%
Phênix Seguradora – 25,3% – 20,7% – 29,0%
Fora de Padrão
Axa Seguros – 38,5% – 48,5% – 2,4%
Liberty Paulista Seguros – 24,9% – 27,6% – 12,8%
Sul América Seguros – 17,3% – 24,1% – 13,5%
Fonte: SUSEP – SES
Do demonstrativo acima ressalto que fora de padrão significa alterações substanciais praticadas pelas seguradoras relacionadas – run off – onde o resultado se deu no I semestre-03.
Para uma melhor classificação devemos esperar os próximos números. Por enquanto serão consideras empresas em fase de recuperação.
Aqui temos, acima da média do mercado, seis seguradoras, encabeçadas pela Brasil Veículos Seguros.
3- CONCLUSÕES:
Não acompanhei as premiações que até o momento foram concedidas aos grupos ou seguradoras individuais do Mercado.
Com certeza a Marítima e a Brasil Veículos devem ter recebido prêmios por rentabilidade ou performance da carteira.
De fato faltou uma pesquisa fundamental para se mensurar corretamente a performance. O grau de satisfação do segurado e do corretor de seguros em relação à empresa deveria constar para uma conclusão mais definitiva. Infelizmente não disponho de tais dados.
Como pudemos observar muitas seguradoras estão com problemas de preços e custos. Na sua grande maioria, afora as do setor bancário – cadastro para outros negócios – o resultado financeiro oriundo da operação é que equilibra ou não a situação da modalidade.
Dependendo do grau de dependência da seguradora na modalidade em foco, as demais operações financiam o déficit ou, na pior das hipóteses, o acionista via aporte de capital.
Quando o elemento custo chega ao osso (redução máxima sem prejudicar a qualidade do atendimento) a busca pelo combate a fraude é uma das poucas saídas do mercado para a consecução de um equilíbrio técnico. Neste sentido a FENASEG, através de sua Diretoria de Prevenção e Fraudes, fechou um contrato com uma empresa especialista norte-americana – A.T.Kearney – de R$ 6,0 milhões (aproximadamente US$ 2,0 milhões) para implementar 33 ações contra fraudes no mercado brasileiro. Vamos torcer para que conceitos dos Estados Unidos funcionem no Brasil, afinal são países de mesma formação econômica, cultural, política e, principalmente, jurídica.
Finalmente, uma última ressalva aos marqueteiros e pseudo-analistas de plantão: Tomem cuidado nas avaliações, mesmo considerando produtos com composições diferentes.
Autor : Luiz Roberto Castiglione

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