Notícias | 4 de novembro de 2005 | Fonte: Luiz Carlos Azenha, site www.viomundo.com

Arapongas gravavam reuniões em seguradora

Funcionário estranha atuação da SUSEP

Fonte – Luiz Carlos Azenha, site www.viomundo.com

Hugo Faustini Galhardo começou a trabalhar na seguradora Interbrazil em setembro de 2004.
A sede da empresa ficava num luxuoso casarão da rua Colômbia, num bairro chique de São Paulo.
Faustini trabalhava no Departamento de Sinistros, aquele que avalia os pagamentos a serem feitos por uma seguradora.
Ele descreve a lenta agonia da empresa.
Desde que Hugo foi admitido, um funcionário do órgão encarregado de vigiar as seguradoras fiscalizava a Interbrazil.
A Superintendência de Seguros Privados é subordinada ao Ministério da Fazenda.
A SUSEP decretou direção fiscal, uma espécie de intervenção na Interbrazil, em agosto de 2005.
Em menos de uma semana, decidiu liqüidar a empresa, quase um ano depois de colocar a empresa sob fiscalização permanente.
Hugo diz que a situação da seguradora era insustentável muito antes.
Sem julgar o fiscal da SUSEP, que visitava a empresa pelo menos uma vez por semana, Hugo diz: “Eu, por mim, pelo jeito que eu estava vendo a situação, qualquer um sabia como estava a situação da companhia. Não tinha como falar que não sabia”.
Segundo ele, isso estava claro pelos atrasos nos pagamentos, que se agravaram muito desde o início de 2005.
Hugo foi ameaçado de morte por telefone e ameaçado de agressão pessoalmente. Não culpa os clientes: “Eu também acho que se estou perdendo uma coisa minha, durante quatro meses sem receber, eu também não ia ter paciência”.
E mais: “Segurado batia no carro dela (de uma cliente), batia na moto, teve vítima de atropelamento. Gente que vinha receber e não conseguia. Não tinha dinheiro para pagar”.
André Marques da Silva era, então, o diretor-presidente da Interbrazil.
A foto acima foi feita durante a entrevista que gravamos com ele para o Jornal Nacional.
A investigação sobre a Interbrazil na TV Globo teve a participação, entre outros, dos repórteres Luiz Malavolta, Robinson Cerântula, Marcelo Ahmed, David Presas, Aloísio Araújo e dos editores Marco Aurélio Mello e Ana Escalada.
Na entrevista ao JN, André admitiu ter ajudado, com material, a campanha de reeleição do prefeito Pedro Wilson, do PT, em Goiânia, cidade de origem do dono da seguradora.
A ajuda não está registrada na prestação de contas do petista à Justiça Eleitoral.
O crescimento espetacular da Interbrazil coincidiu com a posse do governo Lula.
A empresa faturou 24 milhões de reais em 2002, 35 milhões em 2003 e 62 milhões em 2004.
Mensagem de correio eletrônico endereçada a André indica que pedidos de pagamentos de campanha teriam sido feitos por Adhemar Palocci, ex-secretário de Finanças de Goiânia e coordenador da campanha de Pedro Wilson.
Adhemar é o irmão mais velho do ministro Antonio Palocci.
Com a derrota de Pedro Wilson, assumiu o cargo de diretor de Engenharia da Eletronorte, em Brasília.
A mensagem acima teria sido mandada pelo irmão de André Marques, Cláudio, que é empresário em Goiânia.
Tanto na entrevista ao Jornal Nacional quanto no depoimento que fez à CPI dos Correios, André negou ter discutido pagamentos de campanha com Adhemar Palocci.

Na gravação com o JN:

O Adhemar Palocci é quem pedia os pagamentos ao senhor?
Não, eu nunca tive gestão nenhuma de pagamentos. Quem pedia e pra quem pediu eu não sei, tem que ver com o próprio meu irmão se ele tem alguma informação. Se foi o coordenador ou se foi o tesoureiro. (Nota do colunista: Adhemar Palocci era o coordenador da campanha; Vanilda Alves, a tesoureira). Quem é que fez toda essa operação, eu não sei.
O senhor um pouco antes da eleição do ano passado não recebeu um pedido de seu irmão para fazer pagamentos a prestadores de serviço?
Posso tentar achar essas informações. A minha empresa sempre trabalhou eletronicamente, com troca de e-mail. Eu sempre tive uma equipe. Viajava bastante, então eu sempre tive uma equipe aqui em São Paulo.
Mas o senhor acabou de dizer que não participava disso. Pode ser que tenha participado?
Pode ser que tenha chegado um e-mail, a minha secretária pegou, ela mesma autorizou, mandou para o departamento próprio, não sei.
Secretária afirma que André Marques ligou para Adhemar Palocci
Maria Cristina da Cruz era a secretária de André Marques.
Chegou a ser indicada diretora da empresa.
Ela disse não ter conhecimento de pagamentos da Interbrazil a campanhas políticas.
Mas confirmou que ligava para a secretária de Adhemar Palocci, em Brasília, para confirmar encontros entre o diretor da Eletronorte e André Marques.
A quebra do sigilo telefônico da Interbrazil, decidida pela CPI dos Correios, permitirá a confirmação ou não do que afirma Maria Cristina.
Na entrevista ao Jornal Nacional, André disse ter encontrado Adhemar em Brasília para falar de negócios pelo menos três vezes.
No depoimento à CPI, voltou atrás:
Quando eu reuni com ele eu reuni como secretário de Finanças da Prefeitura (de Goiânia).
Um deputado perguntou:
Isso lhe facilitou alguma coisa, ele ajudou alguma coisa ou não?
Em nada, nada, nada.

Em Brasília, visitei a sede da Eletronorte em setembro de 2005.
Um assessor de imprensa disse que Adhemar Palocci não gravaria entrevista, mas talvez aceitasse conversar com este repórter.
Depois de meia hora de espera, o assessor nos informou que não haveria nem mesmo a conversa informal.
Os encontros de André com Adhemar – se de fato aconteceram – foram num momento crítico para a Interbrazil.
Abril, maio e junho de 2005 – pelo que disse André ao JN.
A Interbrazil lutava pela sobrevivência.

É neste período que Hugo, o ex-funcionário, tinha que tourear os clientes que iam até a sede da empresa reclamar da falta de pagamento.
A empresa deixou de honrar centenas de apólices de seguro.
Os clientes que reclamavam pessoalmente eram recebidos na sala 3 do casarão, onde havia monitoramento de áudio e vídeo. Perguntei a Hugo:
Quem é que fazia as gravações lá na sala 3?
Era a companhia de segurança Homens de Preto. Eles gravavam tudo.
Segundo o ex-funcionário, havia uma câmera e um microfone embutidos na parede.
Além de ser usada por Hugo, a sala 3 também era ocupada pelo fiscal Roberto Sanches, da SUSEP.
Perguntei a Hugo: o trabalho do fiscal, que analisava documentos da Interbrazil pelo menos uma vez por semana, também era gravado?
Com certeza. Pelo que eles (colegas) falaram.
Tudo o que acontecia na sala 3 era gravado?
Era gravado.
André Marques confirmou que o sistema instalado na sala 3 e outras câmeras espalhadas pelo casarão permitiam a ele monitorar o que acontecia na empresa:
Então ali, na sala 3, dava para ver o que estava acontecendo?
Até pela internet dava para ver, se eu quisesse saber o movimento. Entrava no link da Interbrazil e via o movimento.
Mas sabia o que estava acontecendo na reunião?
Era possível, total, era gravada cem por cento.
Com áudio e vídeo?
Áudio e vídeo, sempre foi assim. Não é estranho a ninguém, sempre foi assim.
Segundo André, o objetivo das gravações era dar a segurança à empresa, por sugestão da Homens de Preto.
Se ainda existem gravações, diz ele, estão dentro de computadores, agora sob a guarda da SUSEP.
O dono da seguradora foi acusado pelo órgão fiscalizador de dar sumiço no servidor central da Interbrazil, na véspera da intervenção.
André nega que tenha escondido computadores ou documentos.
Disse ao JN que tudo o que acontecia na Interbrazil passava pelo fiscal da SUSEP:
Na campanha de 2004 já existia a fiscalização da SUSEP. Entrou (o fiscal), salvo engano, no dia 25, 28 de setembro…de agosto. Quer dizer: é fácil levantar toda essa informação (sobre ajuda a campanhas), porque tem os relatórios diários que eram enviados para a fiscalização.
A SUSEP saberia, então, das contribuições que o senhor fez para campanhas?
Com certeza. Se a Interbrazil fez alguma contribuição, ela sabe.

A CPI dos Correios convocou, mas ainda não ouviu Renê Garcia Jr., superintendente da SUSEP.
Antes de assumir o cargo, ele foi secretário de Controle do governo de Benedita da Silva, do PT, no Rio de Janeiro.
Em nota sobre a Interbrazil, Renê Garcia afirmou que a SUSEP cumpriu todos os prazos exigidos por lei antes de liqüidar a seguradora, negando qualquer favorecimento à empresa.
Hugo Faustini, o ex-funcionário, percebeu em junho de 2005 que a seguradora estava a caminho da falência, tantas eram as reclamações de clientes.
Disse que ligou para a SUSEP como se fosse um cliente para perguntar sobre a Interbrazil. Resposta?
A Interbrazil está normal no mercado. Não tem nenhum problema.
O mesmo teria sido feito por outra pessoa do Departamento de Sinistros, depois que os funcionários receberam da seguradora as cartas de dispensa.
Diz Hugo:
Aí ela ligou lá e a SUSEP falou que estava operando normalmente, no dia 8 de agosto de 2005. Um dia antes de fechar. E no dia 9 de agosto, as informações que a gente tem são de que, na hora que todo mundo foi embora, foram dois caminhões lá e arrancaram tudo da companhia.

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