Notícias | 5 de junho de 2020 | Fonte: Revista Apólice

Aquecimento global e eventos climáticos geram perdas para o mercado segurador

Segundo um estudo realizado pelo Swiss Re Institute, o crescimento populacional, a urbanização e o desenvolvimento econômico desencadearam um crescimento nas perdas

O mais recente sigma sobre “Catástrofes naturais em tempos de acúmulo econômico e mudanças climáticas” afirma que o Swiss Re Institute prevê que o aquecimento global resultará no aumento da intensidade e da frequência de eventos climáticos adversos, bem como em um maior nível de incerteza na sua avaliação. As perdas econômicas e seguradas resultantes desses eventos aumentarão nas próximas décadas e isso representa uma grave ameaça para a resiliência global.

Em 2019, as perdas econômicas mundiais decorrentes de desastres naturais e de desastres provocados pelo homem foram de US$ 146 bilhões, abaixo do valor de US$ 176 bilhões em 2018 e da média anual anterior de 10 anos de US$ 212 bilhões. A indústria de seguros global cobriu US$ 60 bilhões do valor das perdas, quando comparado com US$ 93 bilhões em 2018 e US$ 75 bilhões em média nos últimos 10 anos. Embora os eventos climáticos adversos ainda sejam os maiores geradores de perdas totais em 2019, amplificados pelos desenvolvimentos socioeconômicos em áreas afetadas e pelos efeitos do aquecimento global, a redução das perdas se origina principalmente da ausência de furacões grandes e onerosos nos EUA.

“O desenvolvimento econômico e o crescimento contínuo da concentração populacional nos centros urbanos, em conjunto com as alterações climáticas, continuará a aumentar as perdas devido a eventos climáticos futuros”, afirmou Edouard Schmid, presidente do Swiss Re Institute e diretor atuarial do Grupo Swiss Re. “Nossa indústria pode desempenhar um papel fundamental, estabelecendo parcerias com clientes e governos para desenvolver soluções escaláveis que suportam a transição para um mundo com baixas emissões de carbono, gerenciando os riscos associados a projetos de energia renovável e tornando-os mais atrativos para os investidores com o respaldo da transferência de risco do (res)seguro”.

Das perdas econômicas em 2019, US$ 137 bilhões foram devidos a desastres naturais, sendo que os US$ 9 bilhões restantes foram devidos a eventos provocados pelo homem. Dos US$ 60 bilhões em perdas seguradas, as catástrofes naturais foram responsáveis por US$ 52 bilhões. Os maiores eventos de perda da indústria em 2019 ocorreram em partes densamente povoadas e desenvolvidas do Japão: o tufão Faxai em setembro (perdas seguradas de US$ 7 bilhões), seguido pelo tufão Hagibis em outubro (perdas seguradas adicionais de US$ 8 bilhões).

Tendências socioeconômicas ocultam o impacto do aquecimento global em um cenário de risco dinâmico

O desenvolvimento econômico e a distribuição populacional leva a alterações no uso da terra, resultando, por exemplo, no desmatamento e em construções em planícies de inundação e nas interfaces entre as áreas urbanas e florestais. Outra variável é a escala da infraestrutura de mitigação de risco, como barreiras contra inundação e defesas costeiras. Todos esses fatores influenciam a escala das perdas provocadas por eventos climáticos extremos e outros desastres naturais.

O último sigma inclui um capítulo escrito pelo Professor Adam Sobel da Universidade de Columbia, que observa que as formas com que o aumento das temperaturas altera os riscos de catástrofes naturais ainda não é totalmente compreendido, devido ao breve histórico de registros observacionais existente e outros fatores. Contudo, reunir as evidências para confirmar o impacto do aquecimento global pode levar décadas. A falha em tomar providências tangíveis imediatas poderá levar os sistemas climáticos a atingir pontos de ruptura irreversíveis. Isto, por sua vez, pode ameaçar a segurabilidade, particularmente em áreas onde a urbanização e o desenvolvimento econômico levaram a altos níveis de concentração da exposição do valor dos ativos (humanos e físicos).

“É difícil quantificar os efeitos exatos do aumento das temperaturas em catástrofes climáticas específicas, mas o aquecimento global é uma ameaça que exige ação imediata devido aos seus efeitos desastrosos tanto na vida humana quanto na economia global”, afirmou Jerome Jean Haegeli, economista-chefe do Grupo.

Os efeitos do aquecimento global já são evidentes e incluem a elevação dos níveis do mar, ondas de calor maiores e mais frequentes e padrões erráticos de chuvas. De acordo com o relatório, temperaturas mais quentes provavelmente levarão ao aumento da frequência de eventos climáticos extremos. Os efeitos prejudiciais manifestam-se principalmente nos riscos secundários, tal como ficou evidente em cada um dos últimos três anos. Em 2019, especificamente, as inundações causadas pelas chuvas que vieram com o tufão Hagibis, o surto de tempestades gerado pelas inundações provocadas pelo ciclone Idai em Moçambique e as chuvas das monções no sudeste da Ásia e em outros sistemas climáticos causaram devastação econômica e humanitária. Recordes no registro de altas temperaturas no leste da Austrália mantiveram os incêndios florestais ativos por milhões de hectares de mata no mais longo incêndio florestal do país.

Os riscos climáticos ainda podem ser segurados

O Swiss Re Institute acredita que, com algumas ações de adaptação, os riscos climáticos ainda podem ser segurados. As seguradoras precisam se adaptar a um cenário de risco dinâmico incorporando e monitorando de perto os desenvolvimentos socioeconômicos, as mais recentes pesquisas científicas sobre os efeitos do aquecimento global e o estado das medidas locais de mitigação de riscos durante a sua modelagem. Diversos modelos atuais de situação de desastre são aferidos em comparação com dados históricos de perdas, o que não reflete o atual nível de urbanização e, portanto, não leva totalmente em consideração as atuais exposições de crescimento rápido, o dinâmico ambiente socioeconômico e o clima.

“Para preservar o modelo de transferência de risco do seguro como uma ferramenta poderosa para promover a resiliência, as seguradoras precisam se adaptar antes e não após os eventos”, afirmou Martin Bertogg, diretor de Risco de Catástrofe da empresa. “Para isso, as seguradoras devem ter cuidado com os registros históricos de perdas ao entender o estado atual do ambiente socioeconômico e do clima. Fazer uma média do passado abrangendo várias décadas pode levar a uma avaliação de risco distorcida”.

O tufão Hagibis é um exemplo disso. O Japão sempre teve uma alta exposição ao risco de tufão e, com um grande investimento em defesas contra inundação costeiras e terrestres após os devastadores eventos relacionados a tufões nos anos 50 e 60, a indústria do (res)seguro considerava que o risco de inundação no País estava amplamente mitigado.  Contudo, a maior parte dos US$ 8 bilhões em perdas seguradas relacionadas com o tufão Hagibis vieram das inundações e, devido ao desenvolvimento urbano desde meados do século 20, Tóquio não estava preparada para a extensão dos danos físicos sofridos.

“Embora as defesas contra inundação tenham evitado grandes devastações em partes da área metropolitana de Tóquio, pelo menos 55 rompimentos de diques e transbordamentos de rios demonstram que o risco de inundação está somente parcialmente mitigado”, ressalta Bertogg. “As defesas contra inundação diminuíram o impacto, mas de forma alguma o eliminaram”.

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