Notícias | 28 de maio de 2004 | Fonte: Gazeta Mercantil

AON aposta nos filmes brasileiros

Corretora criou departamento para desenhar pacotes no ramo de entretenimento. Garantir o investimento dos produtores de cinema, para que haja recursos suficientes a novas produções e leve o Brasil a uma posição mais destacada no cenário internacional. Essa é a missão de Dulce Thompson, especializada em criar programas de seguro para empresas ligadas a entretenimento e que trabalha na AON, segunda maior corretora de seguros do mundo. “É um investimento que tem muitos riscos e precisa de uma cobertura de seguro muito bem estruturada”, afirmou.

O seguro visa garantir que os investidores não perderão o valor investido e nem tenham de aportar recursos extras para garantir que o filme seja rodado. Segundo Dulce, a entrada de produtoras internacionais, como Columbia Pictures e Fox no Brasil tem aumentado a demanda por programas de seguros para filmagens. Só para citar os seguros mais recentes, a AON foi responsável pelo pacote comprado pelos produtores de “Meu Tio Matou um Cara”, de Jorge Furtado, e Cidade Baixa, de Sérgio Machado (ver quadro).

Dulce explicou que os produtores executivos, que funcionam como gerentes financeiros, estão separando uma verba da produção para investir em seguro, uma exigência dos investidores, que precisam garantir que terão retorno do dinheiro que estão apostando no projeto. “Nos países desenvolvidos não se consegue investidor para uma produção que não tenha seguro. É uma cultura bem desenvolvida no exterior”, disse. O filme Jurassic Park ilustra bem essa cultura americana.

O filme começa com o produtor do parque querendo convencer funcionários de seguradoras de que eles poderiam recomendar o risco pois o parque era seguro. Se a seguradora aceitasse o contrato, os investidores aportariam os recursos para o lançamento do empreendimento, que também só poderia ser aberto ao público após a contratação da apólice de responsabilidade civil, que indeniza danos a terceiros. É o mesmo caso dos investidores em filmes. “Imagina se o ator principal morre no meio da filmagem? Eles terão de refilmar tudo novamente e isso tem um custo considerável”, exemplifica Dulce.

Como no Brasil se tem pouco dinheiro para produzir um filme, geralmente as filmagens tem de ser rápidas e estressam os atores, que trabalham mais horas do que recomenda qualquer manual de qualidade de vida. Resultado: os atores adoecem e isso compromete o prazo da filmagem e os investimentos. “Claro que isso tem um custo extra”, acrescentou.

Além desses, há os riscos corriqueiros, como extravio de figurinos, incêndio de cenário, quebra de equipamentos, tumultos em gravações externas, negativos filmados danificados, acidente pessoal para artistas e staff, responsabilidade civil para indenizar perdas causadas a terceiros durante toda a gravação e cancelamento de filmagem.

Por ser um produto novo no Brasil, Dulce recomenda que antes de assinar o contrato o produtor procure um especialista. Como as seguradoras brasileiras têm pouca experiência com o risco, podem restringir coberturas ou cobrar um preço mais elevado por não ter uma base estatística para taxar o risco adequadamente.

Atualmente a corretora trabalha com a italiana Generali Seguros e a norte-americana Chubb Seguros. Como boa parte do risco é repassada ao mercado internacional, por meio do IRB Brasil Re, que controla as operações de resseguro, o mesmo pode ocorrer. “O IRB está retendo um percentual maior por acumular experiência com a carteira”. A quebra de equipamentos e paralisações por problemas médicos com atores são as indenizações mais solicitadas nesse tipo de apólice.

A carteira de entretenimento no Brasil ainda é pequena e não há números detalhados, pois os valores estão diluídos em diversas carteiras. “Mas com o bom desempenho das produções brasileiras no exterior, com as produções de Walter Sales, como Diário de Motocicletas e Central do Brasil, a tendência é de que esse mercado cresça muito”, aposta Dulce.

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