Notícias | 16 de julho de 2004 | Fonte: Folha de São Paulo

ANS defende nova lei para seguro-saúde

O diretor-presidente da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), Fausto Pereira dos Santos, 42, diz que única saída para “pacificar” o mercado de planos e seguros de saúde antigos é Congresso aprovar uma lei que drible a liminar do STF (Supremo Tribunal Federal) que permitiu às empresas do setor a fazer reajustes de até 82%, acima dos 11,75% autorizado pelo governo.

“A gente não tem como garantir um mundo mais pacífico para esse processo a não ser que tenha por parte do Legislativo um processo de parceria”, disse Santos à Folha ontem em São Paulo, antes de participar do 1º Congresso Brasileiro de Planos de Saúde.

Em agosto do ano passado o Supremo derrubou os efeitos de pontos da lei 9.656/98 -que regulamenta o setor de saúde suplementar- para os contratos anteriores a ela. Com isso as empresas passaram a “ressuscitar” uma série de índices de correção.

Apesar do caráter provisório da decisão –trata-se de uma liminar–, ela já tem efeitos na prática: mais de 300 mil pessoas receberam cartas de operadoras como Bradesco Saúde e SulAmérica sobre os aumentos. São principalmente clientes de carteiras desequilibradas, que gastam mais do que arrecadam. Como opção ao contrato antigo, receberam proposta de migrar para um novo, segundo a lei atual, ainda mais caro.

Santos disse que o órgão deverá rever a migração.

Folha – Como o senhor enxerga a situação dos contratos antigos?
Fausto Pereira dos Santos – A situação já era motivo de preocupação desde o ano passado, até por isso fizemos o Piac [incentivo à adequar o plano à lei atual, suspenso pela Justiça]. A gente já sabia que, após a decisão do STF, algumas questões poderiam aparecer. Claro que a gente não conseguiu avaliar essa dimensão de reajuste. Mas pessoas com contratos antigos não estão desprotegidas, você tem tido liminares.

Folha – Sim, mas o que se vislumbra é uma vida de briga judicial.
Santos – Não temos como garantir para as pessoas que pacificaremos o setor em uma ação regulatória mágica. O setor cresceu sem regulamentação por muitos anos. Agora não temos como garantir um mundo mais pacífico para esse processo a não ser que tenha, por parte do Legislativo, uma parceria para aprimorar a lei. Seria um projeto para modificar pontos da lei.

Folha – E quem deixou o barco correr? Desde a decisão do STF já havia aviso do que poderia ocorrer.
Santos – Sabe de quando é a ação [em que o STF concedeu a liminar]? Ela é de 98, 99. Ficou quatro anos aguardando.

Folha – E quem responde?
Santos – Somos todos nós. Não é o Supremo que vai responder.

Folha – E qual sua avaliação da postura do Judiciário?
Santos – Acho que o STF teve posição muito conservadora, por fazer prevalecer um contrato assinado há 15 , 20 anos, onde a conjuntura era outra.

Folha – Qual a possibilidade real de a ANS intervir nas empresas?
Santos – É complexo. Estamos no momento de autuar e multar as operadoras. E o formato de intervenção é muito diferenciado. São atitudes extremas.

Folha – Mas para intervir o que é necessário?
Santos – O reiterado descumprimento do normativo [a ANS considerou reajustes não previstos nos contratos ilegais].

Folha – E quantas vezes é necessário descumprir?
Santos – Varia… é uma avaliação caso a caso. Não está na legislação.

Folha – O governo, antes de incentivar a adequação à lei, não deveria alertar que os usuários poderiam ter um grande aumento?
Santos – Mas aí é terrorismo.

Folha – Não era terrorismo. Era verdade.
Santos – Não tínhamos dimensão de que as empresas fariam fazer um uso desse porte, desse formato, da decisão do STF.

Folha – E quem não pode migrar? A migração em alguns casos é mais cara ainda.
Santos – A agência, findo esse processo, voltará a olhar essas carteiras para buscar alternativas. Vai rever a migração e como trabalhar um processo de adaptação. A parte da migração foi ineficaz. As pessoas não migraram.

Folha – O argumento das empresas, de reequilíbrio financeiro, é válido?
Santos – Em algumas carteiras dessas empresas a gente reconhece algum desequilíbrio. Antes da decisão do STF estava em estudo um reajuste por revisão técnica. Tinham pedido em 2001.

Folha – Mas chegava a isso?
Santos – Não a 80%.

Folha – E o setor, como está?
Santos – O setor está estabilizado, tem empresas em crescimento e outras com muitas dificuldades.

Folha – Como…
Santos – Estou tentando sanear.

Folha – Não é bom alertar o consumidor?
Santos – Se as informações que estão no site não estão respondendo, vamos fazer alteração para a pessoa ter idéia. A agência tem de cumprir o seu papel.

Folha – O sr. tem plano de saúde?
Santos – Pessoalmente, não. Uso o SUS. Sou médico. Internação, cirurgia, sempre faço pelo SUS.

Um comentário

  1. CIA DO SEGURO - CORRETORA

    16 de julho de 2004 às 0:00

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