Notícias | 19 de setembro de 2005 | Fonte: O Estado de S.Paulo

A crise e o seguro

Nenhuma crise política é boa para a economia. Mesmo blindada, como a nossa parece estar neste momento, os sacolejos da política acabam tendo algum tipo de reflexo indesejado na atividade produtiva. Este efeito pode variar de atividade para atividade, atingindo mais um setor onde a dependência dos canais envolvidos no escândalo é maior. Todavia, ninguém passa impune por ele, e isto pode ser constatado nos investimentos feitos pelas diferentes atividades produtivas, que já mostravam uma certa parcimônia em relação ao projetado como necessário, antes das declarações iniciais do deputado Roberto Jefferson e que continuam cautelosos depois delas.

A atividade seguradora não é exceção, sendo que, em relação a ela, os efeitos nocivos, quando acontecem, acabam sendo duas vezes mais cruéis porque pegam na entrada e na saída. Na medida que uma crise significa uma redução do ritmo dos investimentos e do consumo da sociedade, a contrapartida, no primeiro momento, é uma diminuição do número de seguros contratados, e, no segundo, a diminuição dos valores dos seguros já existentes.

Nem poderia ser diferente, na medida que, comprando menos, o consumidor tem menos coisas para proteger, desde objetos como televisores e utensílios domésticos em geral, até automóveis ou imóveis, que também ficam para depois, ainda mais numa sociedade como a nossa, onde os financiamentos ainda são a principal modalidade de compra e onde o juro continua alto.

O resultado da diminuição da velocidade de compra da sociedade tem como efeito direto a diminuição do ritmo de encomendas do comércio e, conseqüentemente, a diminuição do ritmo da produção industrial. Cada vez que um desses momentos chega, a atividade seguradora é diretamente atingida, porque o universo segurável deixa de crescer, podendo, dependendo da extensão da crise, inclusive retroceder.

Assim, mesmo com a blindagem da economia e a precificação da crise pelos agentes do mercado, a atividade seguradora pode ser afetada negativamente pela situação política do país, que cresce a patamares insuficientes para as necessidades nacionais e que em agosto apresentou diminuição concreta da velocidade da indústria, brecada, entre outras coisas, pela incapacidade do governo federal sair do estado de letargia que as revelações sobre os mensalões e mensalinhos o jogaram.

Além do crescimento muito moderado da contratação de seguros patrimoniais, o ritmo lento da atividade econômica significa uma estabilização abaixo do necessário no número de empregos, o que afeta os seguros de vida em grupo oferecidos pelas empresas para seus funcionários e aumenta as tentativas de fraude contra as seguradoras, em função do desespero decorrente da falta de dinheiro para manter a família.

Estas variáveis que até agora estão sobre controle no tocante à economia como um todo (apesar dos balanços semestrais mostrarem em vários setores um lucro menor do que o do mesmo período do ano passado), em relação ao setor de seguros já estão cobrando seu preço. Faz tempo que a atividade não tem um desempenho efetivamente satisfatório. A análise criteriosa do desenvolvimento das seguradoras nos últimos anos vai inclusive mostrar que o crescimento do setor vinha muito puxado pelos planos de previdência complementar abertos e que o lucro estava, como ainda está, mais calcado nas altas taxas de juros do que no desempenho industrial das empresas.

Como boa parte dos antigos entraves ao crescimento do setor continua aí, sem qualquer ação mais eficaz, tanto no que diz respeito à renda, como à segurança da população, ainda que com a economia blindada contra os estragos políticos causados pelo PT e por parte do Congresso Nacional, não há razão para se esperar um 2005 rico e farto para a atividade seguradora. Pelo contrário, se ela conseguir manter os acanhados patamares de crescimento e lucro industrial alcançados no ano passado, o resultado já estará muito bom.

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