Notícias | 22 de janeiro de 2019 | Fonte: Seguradora Líder

Três perguntas para Yussif Ali Mere Jr, presidente da FEHOESP e do SINDHOSP

Yussif Ali Mere Jr, médico e presidente da Federação dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (FEHOESP) e do Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (SINDHOSP), considera o volume de mortes no trânsito brasileiro uma questão de saúde pública, destacando, em particular, as ocorrências que envolvem motociclistas. Segundo o médico, a circulação de motos aumentou 40%, nos últimos oito anos, sem que esse crescimento fosse acompanhado por políticas públicas voltadas para esses condutores. Ele defende a implementação de uma política pública nacional para reverter a situação atual, que inclua planejamento e mais investimentos em educação no trânsito, fiscalização e segurança das vias.

Em artigo recente publicado pela Folha de S. Paulo, o senhor aponta que as mortes por acidentes de trânsito constituem um grave problema de saúde pública. Na sua opinião, o que é preciso fazer para tornar o trânsito mais seguro no Brasil?

A saúde é um setor que interage com vários outros. Políticas públicas eficientes voltadas à educação, infraestrutura (como saneamento básico), meio ambiente, segurança pública e outras áreas impactam positivamente os indicadores sociais e também os de saúde. Apesar da rigidez das infrações, dados do Seguro DPVAT mostram que 41.151 pessoas morreram vítimas de acidentes no país em 2017 e os acidentes com moto representam 74% do total. Mais de 50% deles deixaram sequelas permanentes, em um grupo formado majoritariamente por homens entre 18 e 34 anos. Nos últimos oito anos, a circulação de motos cresceu 40% no país, sem que isso fosse acompanhado de políticas públicas voltadas a esse público. A relação é de uma motocicleta para cada dez brasileiros e sete mortes para cada cem mil pessoas, o que coloca o Brasil na segunda maior taxa de óbitos por habitante em acidentes de moto, segundo o Banco Mundial. Algumas medidas podem e devem ser tomadas imediatamente. Ruas e avenidas do país não estão preparadas para absorver esse contingente de motos e a sinalização é falha. A educação dos condutores precisa ter início no processo de habilitação, que também é deficiente, pois não contempla experiência de direção em vias públicas, por exemplo. A fiscalização é ineficaz, o que estimula parte dos condutores a dirigir sem habilitação e equipamentos de segurança. Essas ações precisam ocorrer simultaneamente, dentro de uma política pública nacional, para tentar reverter a atual realidade.

Qual o impacto dessas ocorrências no setor de saúde?

De 2015 a 2018, o número de acidentes de trânsito caiu aproximadamente 50% no país. Apesar disso, os acidentes com vítimas cresceram 23% no mesmo período. O custo disso para o Brasil, segundo cálculos do Centro de Pesquisa e Economia do Seguro, da Escola Nacional de Seguros (ENS), é de aproximadamente 3% do Produto Interno Bruto, ou R$ 200 bilhões, já que 90,5% das vítimas estavam em idade economicamente ativa. Esse é o custo social dos acidentes de trânsito. Na saúde, especificamente, os acidentes custaram ao Sistema Único de Saúde (SUS), em 2017, somente com despesas hospitalares, cerca de R$ 255 milhões. Foram mais de 192 mil internações. Na saúde suplementar não há dados oficiais sobre o tema, mas é óbvio que o custo das internações e terapias pós-alta são exorbitantes. Estamos, portanto, diante de um grave problema de saúde pública, principalmente porque os acidentes de trânsito não estão entre as causas inevitáveis de saúde, como o aumento das doenças crônico-degenerativas, causado, entre outros fatores, pelo envelhecimento da população. Os acidentes são evitáveis e podem ser prevenidos.

Como o senhor avalia o engajamento brasileiro no âmbito da Década de Ação pela Segurança no Trânsito, lançada pela ONU, em 2011?

As Nações Unidas definiram 2011 a 2020 como a “Década de Ações para a Segurança no Trânsito” porque os acidentes são a nona maior causa de mortes no mundo e podem saltar para o quinto lugar até 2030, com 2,4 milhões de mortes, se nada for feito. O Brasil participa da campanha, mas os números mostram que podemos perder essa batalha se não houver mais engajamento. Como pontos positivos da campanha brasileira cito a Lei Seca, o rigor da fiscalização que tem ocorrido nas grandes cidades, com testes de bafômetro, e o aumento expressivo no valor das autuações. Tudo isso ajuda a evitar acidentes, e os números mostram queda de 50% deles em três anos. Mas é preciso fazer mais. Precisamos de políticas públicas que garantam planejamento e um maior investimento em educação no trânsito, fiscalização e segurança das vias.

Clique aqui para acessar o site da FEHOESP. Para acessar o site da SINDHOSP, clique aqui.

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