Debate Seguro | 8 de abril de 2020 | Fonte: Délio Reis

Salário social, já ouviu falar?

Eu nunca tinha ouvido falar sobre este tema até novembro de 2018, quando participei da Conferência Ethos em Belém-Pa, especificamente, de uma palestra ministrada por Flávia Gamonar, instrutora do LinkedIn.

A abordagem que ela fez tratou dos efeitos sobre as relações de trabalho e emprego que viveremos no futuro em função das mudanças que a tecnologia irá impor sobre o mercado.

Flávia defendia que muitas profissões deixariam de existir e que, por falta de qualificação, as pessoas não teriam oportunidades e milhões nunca mais voltariam ao mercado de trabalho formal. Daí, segundo ela, a necessidade de que os países começassem a planejar de qual forma essas pessoas teriam a renda mínima para sua sobrevivência e de suas famílias. A isso ela chamou de salário social.

Desde então, esse assunto não saiu mais da minha cabeça, embora não tenha ouvido falar sobre ele novamente. Não tanto por mim, mas pelos milhões, talvez bilhões de indivíduos que seriam afetados por essa nova realidade. Tentei falar com inúmeras pessoas sobre isso; contudo, não encontrei ninguém que soubesse ou quisesse falar sobre o assunto.

Porém, de repente, por conta de um micro-organismo que está mudando o mundo, mesmo que ainda não saibamos o quanto, o assunto veio à tona. Não com a mesma denominação, mas com o mesmo objetivo: manter a dignidade do ser humano, garantindo, ao menos, alimentação e moradia.

O Covid-19 ainda não nos mostrou o tamanho do problema. Entretanto, já encurtou o caminho para as mudanças radicais que irão acontecer assim que voltarmos à “normalidade”. O mundo todo hoje fala da necessidade de proteger os mais vulneráveis, de o Estado prover minimamente a sua subsistência. Iremos viver, nos próximos meses, um período de mudanças que levariam anos para acontecer. A tecnologia já está afetando as relações de trabalho. Milhões de pessoas não voltarão aos seus antigos locais de trabalho, por demissão ou por trabalhar em home office.

Atuo na Indústria do Seguro, sou corretor e dono de uma empresa corretora de seguros. Como já vinha implementado ferramentas tecnológicas há algum tempo, quando tomei a decisão de ir para casa, juntamente com o nosso time, bastou cada um pegar o seu notebook e trabalhar da mesma forma como se estivesse no escritório. Aliás, começo a ter dúvidas se voltaremos a ter um novamente.

Todo o mercado segurador (seguradoras, operadoras de saúde, corretores pessoa física ou jurídica) está trabalhando praticamente com 100% da sua força. E, como eu e minha empresa, já estão pensando em reduzir espaços físicos e estruturas de trabalho, sem necessariamente demitir pessoas. Mas e os outros mercados?

Prevejo que iremos viver dez anos em poucos meses. Que chegou a hora de falarmos não somente agora, que estamos nesta crise, sobre como iremos cuidar das pessoas que necessitarão da proteção do Estado para ter o mínimo de dignidade.

Espero que tenhamos as condições, a vontade e a sensibilidade para dar conta desse imenso problema que o destino nos antecipou.

Delio Reis estudou engenharia, é Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Corretor e Gestor de Seguros, empresário e voluntário da Organização Internacional Arte de Viver – onde coordena, na Bahia e em Minas Gerais, o Programa de Ressocialização que leva cursos de yoga, respiração e meditação para as pessoas privadas de liberdade.

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