Notícias | 21 de outubro de 2009 | Fonte: Delio Reis

“O SENHOR MENTE”

Esta frase foi dita pelo congressista republicano Joe Wilson ao Presidente americano Barack Obama, numa sessão do Congresso Americano no mês de setembro. A declaração causou um espanto enorme, foi seguida por uma condenação geral e por um pedido de desculpas formal.

O tema da discórdia é a reforma do sistema de saúde americano e, apesar da deselegância do parlamentar, era sua crença que estava em questão. Ele não queria que os benefícios fossem estendidos aos imigrantes ilegais, pois seria uma afronta aos princípios Republicanos. Barack Obama, que defendia o pensamento Democrata, nunca mencionou esta intenção.

Quando a discussão é baseada em crenças é difícil afirmar quem está certo. No Brasil vivemos problemas semelhantes na saúde. Os atores do setor se atacam o tempo todo e cada um acha que está com a razão. O fato é que temos um sistema de saúde melhor que o americano, apesar de estar longe da perfeição e dos conflitos.

Enquanto nos Estados Unidos milhões de pessoas não estão protegidas por nenhum plano, privado ou publico, no Brasil 100% da população pode desfrutar da cobertura do SUS, mesmo que precariamente, e aproximadamente 40 milhões de pessoas contam com a proteção de planos privados.

O curioso é que os dois sistemas brasileiros consomem praticamente a mesma quantidade de recursos, mas o privado é reconhecidamente superior.

Qual o nosso problema afinal?

O nosso, e de todos os países do mundo, é a falta de recursos e/ou a sua má utilização. A saúde em todo o mundo vive o paradoxo da amplitude de necessidades contra a escassez de recursos. A medicina é o único setor onde a tecnologia não reduz custos, ao contrario. Aliado a isto o nosso modelo privilegia a doença e não a saúde.

Gosto de exemplificar tomando o exemplo do RX. Convivemos com este procedimento há mais de 100 anos e ele ainda é extremamente eficaz na maioria dos casos em que se necessita de um exame por imagens. Mas a ressonância magnética e a tomografia computadorizada são cada vez mais requisitadas pelos médicos. Por quê?

Primeiro por ser mais resolutivo e segundo por ser do interesse da classe medica, já que aumenta o faturamento de quem possui o equipamento. Um RX de crânio deve custar por volta de R$ 100,00 enquanto uma RM ou uma TC pode custar até dez vezes mais.

Outro exemplo clássico é uma fratura de tornozelo. Há 30 anos, o gasto seria de um RX mais uma bota de gesso por três meses. Hoje o ortopedista alem de pedir um exame “mais detalhado” pode perguntar ao paciente: você prefere ficar 90 dias engessado ou fazer uma cirurgia com placas e pinos de titânio e voltar a andar em duas ou três semanas? A resposta é obvia. Só não se fala dos custos desta opção.

A sigla OPME – Órteses, Próteses e Materiais Especiais – causa arrepios nas operadoras, este é o maior ralo por onde os recursos se perdem. São materiais caríssimos e muitas vezes são requisitados muito mais pelo apelo financeiro que pela necessidade real.

Vivíamos até 1998 num mercado sem nenhum controle e a Legislação veio como um remédio, mas está matando o paciente. Motivado pela Regulamentação do Planos Privados, o Código de Defesa do Consumidor, o Estatuto do Idoso, o Estatuto da Criança e do Adolescente, vivemos um período de enormes conflitos onde a questão principal é o desrespeito aos contratos e a socialização dos recursos privados.

100% de proteção só no SUS, no plano privado o limite é contratual. Poderia ser chamado de mentiroso ou exagerado por muita gente que pensa o contrário, mas esta é a minha crença e eu não ousaria brincar com um assunto tão sério.

Os advogados poderiam dizer, e dizem: “Tudo é questionável, inclusive as Leis”. Sem falar que muitas vezes agem em proveito próprio ou por motivação corporativista ou simplesmente financeira.

Os médicos diriam: “As operadoras pagam muito mal, temos que trabalhar 25 horas por dia para ter uma vida digna. O paciente paga o plano e tem direito aos melhores recursos”.  É fato que a maioria ganha mal, mas a categoria não conseguiria viver sem o SUS, que paga muito pior que os planos privados, e muito menos sem a escala proporcionado pelos convênios.

Os juízes SEMPRE dão ganho de causa aos beneficiários e o argumento de sempre é que “a vida está acima dos interesses financeiros”. Como existe o ressarcimento ao SUS pelas operadoras, deveria ter também o ressarcimento pela União às operadoras pelos atendimentos realizados por força do Judiciário, quando ficar provado que a garantia não estava coberta pelo contrato, e conseqüentemente sem amparo atuarial.

Os usuários se acham oprimidos pelo “excesso de controles” das operadoras. Só não entendem que os “excessos” são absolutamente necessários para se evitar as fraudes e os desperdícios. Se houvesse co-participação nos pequenos atendimentos haveria muito menos reclamações, a gestão seria compartilhada com os próprios usuários do sistema.

Os Corretores podem desempenhar um papel fundamental neste conflito, entendendo um pouco sobre os fatores de stress e tentar fazer parte da solução. Ter uma preocupação maior com as declarações de saúde já seria um grande avanço. Como já pude opinar antes, acho que o grande prejuízo que o Corretor pode causar ao mercado é aceitar a produção desqualificada dos “pastinhas”. Eles só têm compromisso com o dinheiro de curto prazo.

E ai? Quem tem razão?

Como a maioria dos leitores do CQCS ainda não acompanha as noticias que divulgamos diariamente no WWW.PMEONLINE.COM.BR, separei algumas que embasam minhas palavras e os convido a tirar suas próprias conclusões.

Um abraço e saúde para todos.

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2 comentários

  1. AC FIGUEIREDO CORRETORA DE SEGUROS

    21 de outubro de 2009 às 22:31

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  2. Márcio R. Carneiro

    21 de outubro de 2009 às 17:38

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