Notícias | 12 de abril de 2011 | Fonte: Valor Econômico | Cristiane Perini Lucchesi

ING se arma para duplicar sua receita no Brasil em três anos

Estratégia: A Idéia é crescer ativos de US$ 3 bi para US$ 5 bi e ampliar prestação de serviços


O ING perdeu executivos para a concorrência na ampla disputa por talentos em voga no mercado financeiro do Brasil. Mas mesmo assim conseguiu crescer o time e não desistiu de acelerar sua expansão. A meta, pré-aprovada pelo conselho global do banco holandês, é duplicar a receita no país nos próximos três anos de forma que ela supere EUR 100 milhões, diz o presidente do banco no Brasil, Thomas Lagermann. Houve renovação dos funcionários em algumas áreas, mas a mensagem clara é de expansão.


Segundo Lagermann, os clientes globais do ING estão ampliando a presença no Brasil. O mercado está muito aquecido e precisamos ser maiores aqui, diz. Segundo ele, a economia do país tem crescido independentemente das crises que acontecem fora do Brasil. É um crescimento autossustentado que surpreende os estrangeiros, apesar das imperfeições e dos juros altos, diz.


Para ele, os investimentos necessários em infraestrutura, em petróleo, gás, energia e as exportações crescentes de commodities fazem crescer a necessidade de financiamento e apresentam oportunidades para os bancos.


Hoje o ING tem uma carteira de US$ 3 bilhões com risco-Brasil, incluídas as transações contabilizadas no mercado interno e externo. O crescimento foi de 50% na comparação com os US$ 2 bilhões do início de 2010. Mas o banco ainda não voltou para níveis anteriores à crise de 2008, quando os ativos eram de R$ 7,5 bilhões só no mercado interno.


Encolhemos em 2009, mas agora voltamos aos lucros e a crise financeira ficou para trás, afirma. No ano passado, recomeçamos ainda de forma tímida, mas agora a pressão de fora é por um crescimento mais rápido, diz. A meta do banco é tentar elevar a carteira para algo próximo a US$ 5 bilhões em 2013. Não temos planos de dobrar os ativos na mesma proporção da receita, pois queremos ampliar nossa rentabilidade, diz.


A maior parte da carteira do banco de capital holandês, hoje, é de empréstimos em dólar. Só 25% desse total -US$ 750 milhões ou R$ 1,2 bilhão, aproximadamente – é de crédito no mercado interno, em reais. Temos um potencial grande de crescimento no crédito interno, afirma Rogério Monori, diretor-gerente responsável pela área de cobertura de clientes.


Com R$ 750 milhões de patrimônio líquido no Brasil, o ING tem capital de sobra para levar adiante seu plano de expansão. Além de ampliar o balanço, a instituição financeira pretende crescer a prestação de serviços e voltar a atuar em áreas nas quais era tradicional, mas que abandonou após a crise de 2008, como fusões e aquisições. Não será nossa prioridade, pelo menos por enquanto, mas queremos poder oferecer o produto a nossos clientes, diz Lagermann. Vamos trabalhar sozinhos nas transações ou buscar parcerias.


Em Nova York, o banco contratou Arthur Rubin, diretor-gerente que vai cuidar da área de mercado de capitais/dívida para América Latina. A ideia é voltar a liderar mais emissões de eurobônus para companhias brasileiras, atividade que já chegou a ser um forte do ING no passado. Fizemos questão de contratar um executivo que sabe falar português, conta Lagermann.


O ING pretende ainda montar um time especializado em financiamento de projetos (project finance) no Brasil e está trazendo ao país a área de financiamento estruturado para os setores de metais e energia. Planeja crescer também o time de relacionamento com clientes. Segundo Monori, um executivo recém-contratado foi Rafael Castanho, que era do WestLB. Estamos repatriando brasileiros e trazendo ao país franceses e ingleses interessados em atuar no país, diz.


Mesmo no financiamento para o comércio exterior e para empresas de commodities, que já é um dos destaques de atuação do ING, o banco quer crescer mais, conta Eber Faria, diretor responsável no Brasil. Foi nessa área que o ING teve a maior baixa – três executivos deixaram o banco tirados pelo ABN AMRO.


Esses executivos já foram repostos e o banco ampliou o time para dez pessoas, em relação às sete do fim do ano passado. Um dos novos contratados é Carlos Cezareto, que já passou pelo banco australiano Mcquarie e pelo francês Société Générale.


O Brasil é um país muito forte em soft commodities e nós temos uma plataforma global especializada para atender a esses clientes, principalmente os produtores de açúcar, café, soja, tabaco, suco de laranja e cacau, afirma Faria. Os produtos incluem hedge (proteção) contra a oscilação nos preços das commodities, de moedas e de taxas de juros.


Hoje, o banco conta com cerca de 100 funcionários no Brasil, considerando-se os terceirizados, e pretende ampliar o time em 50 pessoas. Vamos crescer nossa exposição às multinacionais que atuam no Brasil e às companhias brasileiras que são globais, diz Lagermann. De acordo com Monori, o Brasil tem ganhado tanto destaque que os executivos chefes de área no banco a nível global não param de visitar o Brasil.


Por enquanto, o ING não pretende focar sua atuação na emissão de debêntures para empresas, embora não descarte iniciar a atividade, se necessário. Temos a licença de corretora e poderemos usá-la, diz Monori.


O ING recebeu EUR 10 bilhões do governo da Holanda no final de 2008. A metade disso foi paga de volta em dezembro de 2009, mas ainda faltam EUR 5 bilhões que terão de ser devolvidos. Por isso, ao anunciar o lucro de EUR 3,22 bilhões no ano passado, o executivo-chefe (CEO), Jan Hommen, disse que não iria distribuir dividendos. Afirmou, ainda, que a prioridade para 2011 é vender a área de seguros no mundo todo, o que inclui a saída de participação de 36% no capital total da brasileira SulAmérica.


Para a venda, o grupo segregou a área de seguros do banco e a separou em três companhias: uma nos Estados Unidos, outra que engloba a Europa e países da Ásia, inclusive emergentes, e outra que envolve somente a América Latina. As duas maiores empresas, dos Estados Unidos e da Europa/Ásia, serão vendidas em bolsa, por meio de uma oferta pública inicial de ações (do inglês, IPO). Ainda não há uma definição sobre como será feita a venda da empresa que engloba a América Latina, da qual a cereja no bolo é a SulAmérica.


Em 2009, o ING cortou seu time dirigente no Brasil, como parte de um enxugamento global. Reduziu pelo topo seu pessoal de 100 para 50 pessoas e mudou para um escritório menor em São Paulo. Apesar dos pesares, acabou não reduzindo seu capital no país e agora pode voltar a crescer sem precisar de mais dinheiro. O ING está no Brasil há 26 anos e ficou especialmente conhecido nos anos 90, pois era um dos principais participantes no mercado de títulos da dívida externa de países emergentes. Chegou a ter ativos que ultrapassavam US$ 5,5 bilhões com risco-Brasil e mais de 250 funcionários.

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